Ele era um homem desprovido de coragem para enfrentar uma mulher. Com quase 50 anos, se comportava como um adolescente quando o assunto era relacionamento. Não que fosse cafajeste ou mentisse sobre o que sentia. Não, Álvares não era assim. Ele sabia se apaixonar e ser romântico como ninguém. Mas simplesmente tinha medo de enfrentar algumas situações. Achava que amar podia ser o fim da sua natureza. Solteiro convicto, dizia temer o fim da sua liberdade, que ele preferia chamar de “vida errante”.
Álvares tinha um dom muito particular: um charme imbatível, que envolvia mulheres de todas as idades, tipos e classes. Só que, após a emoção da conquista e um tempo de convívio, ele não sabia o que fazer: o mesmo charme que o beneficiava se transformava em um peso. É que tal talento mantinha junto dele a mulher que ele já queria afastar.
O que Álvares fazia, então? Se calava. Ele preferia fugir a ter que enfrentar uma mulher para dizer um singelo “acabou”. Nem sempre Álvares enjoava rapidamente de uma mulher. De acordo com a inteligência dela, o caso durava mais, ou menos. Valorizava boas e longas conversas, pois nunca teve paciência para a burrice.
A insistência da moça em se meter em sua vida pessoal também podia determinar o tempo do namoro. Esquecer uma escova de dentes na casa dele, por exemplo, era um erro fatal.
Entre casos, namoros e encontros casuais, Álvares se sentia amado e odiado por mulheres que, lógico, nunca o entendiam. Algumas tinham por desafio pessoal mudá-lo. Nenhuma conseguiu. E sua fama de mau caráter era tão grande que muitas já não o levavam mais a sério. Mas ele procurava não se culpar. E, quando sozinho, se jogava nas baladas. E, se cansado, ficava em casa, com sua música e seus livros.
Até que a vida lhe deu um tombo chamado Elisa. Não era só mais um caso. O que o atraía? Ele não conseguia explicar. Álvares, do alto da sua experiência de homem que “sabe como funcionam as coisas da paixão”, se assustou quando percebeu que começava a sentir algo que não conhecia.
Elisa ria dele e dizia: “É amor, você não percebe?”
E ele reagiu da única forma que sabia: correu para longe.
Num primeiro impacto, Elisa sofreu como todas. Mas, mesmo conhecendo a fama do rapaz, tinha por ele uma confiança incomum e, quando ele reapareceu (o que não demorou muito tempo), não teve coragem nem vontade de rejeitá-lo.
Hoje, os dois vivem um vai-e-volta sem fim. Seu primeiro encontro já tem mais de um ano e eles ainda não se acertaram. Mas Elisa já não se preocupa mais com os sumiços de Álvares. O conhece pelo tom da voz, ri de suas fugas e zomba da sua falta de coragem.
“Pelo jeito como fala ao telefone já sei que vai me dar um nó. Para não enfrentar uma situação, é capaz de dizer que tem que levar a mãe ao zoológico”, ela diz.
É que ele ainda tem a ilusão de fugir do que sente. Mas, por mais que de vez em quando ainda tente, não consegue tocar a vida sem o bom humor e o sabor doce de Elisa.
Publicado em 22 de junho de 2008 na Diário DEZ!
Álvares tinha um dom muito particular: um charme imbatível, que envolvia mulheres de todas as idades, tipos e classes. Só que, após a emoção da conquista e um tempo de convívio, ele não sabia o que fazer: o mesmo charme que o beneficiava se transformava em um peso. É que tal talento mantinha junto dele a mulher que ele já queria afastar.
O que Álvares fazia, então? Se calava. Ele preferia fugir a ter que enfrentar uma mulher para dizer um singelo “acabou”. Nem sempre Álvares enjoava rapidamente de uma mulher. De acordo com a inteligência dela, o caso durava mais, ou menos. Valorizava boas e longas conversas, pois nunca teve paciência para a burrice.
A insistência da moça em se meter em sua vida pessoal também podia determinar o tempo do namoro. Esquecer uma escova de dentes na casa dele, por exemplo, era um erro fatal.
Entre casos, namoros e encontros casuais, Álvares se sentia amado e odiado por mulheres que, lógico, nunca o entendiam. Algumas tinham por desafio pessoal mudá-lo. Nenhuma conseguiu. E sua fama de mau caráter era tão grande que muitas já não o levavam mais a sério. Mas ele procurava não se culpar. E, quando sozinho, se jogava nas baladas. E, se cansado, ficava em casa, com sua música e seus livros.
Até que a vida lhe deu um tombo chamado Elisa. Não era só mais um caso. O que o atraía? Ele não conseguia explicar. Álvares, do alto da sua experiência de homem que “sabe como funcionam as coisas da paixão”, se assustou quando percebeu que começava a sentir algo que não conhecia.
Elisa ria dele e dizia: “É amor, você não percebe?”
E ele reagiu da única forma que sabia: correu para longe.
Num primeiro impacto, Elisa sofreu como todas. Mas, mesmo conhecendo a fama do rapaz, tinha por ele uma confiança incomum e, quando ele reapareceu (o que não demorou muito tempo), não teve coragem nem vontade de rejeitá-lo.
Hoje, os dois vivem um vai-e-volta sem fim. Seu primeiro encontro já tem mais de um ano e eles ainda não se acertaram. Mas Elisa já não se preocupa mais com os sumiços de Álvares. O conhece pelo tom da voz, ri de suas fugas e zomba da sua falta de coragem.
“Pelo jeito como fala ao telefone já sei que vai me dar um nó. Para não enfrentar uma situação, é capaz de dizer que tem que levar a mãe ao zoológico”, ela diz.
É que ele ainda tem a ilusão de fugir do que sente. Mas, por mais que de vez em quando ainda tente, não consegue tocar a vida sem o bom humor e o sabor doce de Elisa.
Publicado em 22 de junho de 2008 na Diário DEZ!
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