quinta-feira, 10 de março de 2011

12/07/2009 - O super-herói e o anjo

Foi o encontro do anjo com


o super-herói. A mulher ideal

com o homem perfeito. Nenhum

dos dois estava certo.

Elisa era doce e amorosa,

sensual e divertida. Jovem, demonstrava

ser solta no mundo,

livre, resolvida e independente.

Mas só ela sabia o quanto

procurava um colo. Não

conseguia, principalmente,

confiar no amor que os outros

tinham por ela. Sua crise de

autoconfiança era uma constante

e até amor-próprio lhe

faltava. Como chorava!

Álvares parecia que não enxergava

isso. Para ele, Elisa era

forte e capaz de compreender e

perdoar tudo. Era como uma

mulher-anjo que não via bem

ou mal, apenas tinha uma capacidade

enorme para amar.

Elisa, porém, queria só ser

uma mulher, com todos os defeitos

que sabia que tinha.

Já Álvares era companheiro,

charmoso e inteligente. Intuitivo,

enxergava de longe

oportunidades onde ninguém

via. Como amante, era romântico

e sabia dizer as palavras

certas para agradar uma

mulher. Elisa o admirava e o

desejava mais que tudo.Mas o

tinha como um super-herói,

um ser fantástico capaz de ler

pensamentos, ouvir à distância,

adivinhar desejos. Era isso,

pelo menos, o que ela sempre

esperava dele.

Álvares, porém, era apenas

um homem normal, distraído

e inseguro comoa maior parte

deles. Ele parecia não acreditar

que podia ser tão amado por

umamulher como Elisa, um

anjo. E mostrava ter um medo

absurdo de amar tanto, perder

o controle e quebrar a cara.

Adorava se sentir apaixonado,

mas, naquele momento, buscava

um relacionamento sólido.

Mesmo que não soubesse

direito explicar o que significava

essa solidez.

— Foi por isso que o anjo se

perdeu do super-homem —

me dizia Elisa.—Como alguém

que quer um amor sólido

pode buscar a vida com um

anjo, um ser diáfano, que vive

mais perto do Céu do que da

Terra? — me perguntava com

uma ironia entristecida.

É que Elisa não entendia como

Álvares podia tê-la confundido

com um anjo. E não se

conformava por não ter percebido

o quanto ele era um simples

homem.

Eu não tinha o que dizer para

a minha amiga. O caso de

amor dela e Álvares era antigo

demais. Como dar palpite em

histórias assim, que parecem

nunca ter um fim?

Quando os dois eram solteiros,

não se entenderam. O

mundo era muito grande e o

diálogo entre eles, limitado.

Eram ambos teimosos. Pensavam

que só o sexo de um atraía

o outro e se afastaram, sem nenhuma

explicação. Depois,

durante anos, não se viram.

Mas não se esqueceram. Elisa

me falava de Álvares comnostalgia,

um amor antigo e impossível,

um carma com o qual

ela só se preocuparia na próxima

encarnação.

Mas, um belo dia, bastou

um encontro casual para a

chama reacender. Elisa rapidamente

decidiu que a busca da

solução de um carma conhecido

não deveria ser adiada para

outra vida. E meteu as caras na

paixão.Mas a história do passado

se repetiu: se amaram

loucamente, mas não conseguiram

de novo falar abertamente

sobre os defeitos que

um via no outro.

—Éque nem anjo nem super-

herói podem ter defeitos.

E nós ainda não merecemos

ser apenas humanos.

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