Foi o encontro do anjo com
o super-herói. A mulher ideal
com o homem perfeito. Nenhum
dos dois estava certo.
Elisa era doce e amorosa,
sensual e divertida. Jovem, demonstrava
ser solta no mundo,
livre, resolvida e independente.
Mas só ela sabia o quanto
procurava um colo. Não
conseguia, principalmente,
confiar no amor que os outros
tinham por ela. Sua crise de
autoconfiança era uma constante
e até amor-próprio lhe
faltava. Como chorava!
Álvares parecia que não enxergava
isso. Para ele, Elisa era
forte e capaz de compreender e
perdoar tudo. Era como uma
mulher-anjo que não via bem
ou mal, apenas tinha uma capacidade
enorme para amar.
Elisa, porém, queria só ser
uma mulher, com todos os defeitos
que sabia que tinha.
Já Álvares era companheiro,
charmoso e inteligente. Intuitivo,
enxergava de longe
oportunidades onde ninguém
via. Como amante, era romântico
e sabia dizer as palavras
certas para agradar uma
mulher. Elisa o admirava e o
desejava mais que tudo.Mas o
tinha como um super-herói,
um ser fantástico capaz de ler
pensamentos, ouvir à distância,
adivinhar desejos. Era isso,
pelo menos, o que ela sempre
esperava dele.
Álvares, porém, era apenas
um homem normal, distraído
e inseguro comoa maior parte
deles. Ele parecia não acreditar
que podia ser tão amado por
umamulher como Elisa, um
anjo. E mostrava ter um medo
absurdo de amar tanto, perder
o controle e quebrar a cara.
Adorava se sentir apaixonado,
mas, naquele momento, buscava
um relacionamento sólido.
Mesmo que não soubesse
direito explicar o que significava
essa solidez.
— Foi por isso que o anjo se
perdeu do super-homem —
me dizia Elisa.—Como alguém
que quer um amor sólido
pode buscar a vida com um
anjo, um ser diáfano, que vive
mais perto do Céu do que da
Terra? — me perguntava com
uma ironia entristecida.
É que Elisa não entendia como
Álvares podia tê-la confundido
com um anjo. E não se
conformava por não ter percebido
o quanto ele era um simples
homem.
Eu não tinha o que dizer para
a minha amiga. O caso de
amor dela e Álvares era antigo
demais. Como dar palpite em
histórias assim, que parecem
nunca ter um fim?
Quando os dois eram solteiros,
não se entenderam. O
mundo era muito grande e o
diálogo entre eles, limitado.
Eram ambos teimosos. Pensavam
que só o sexo de um atraía
o outro e se afastaram, sem nenhuma
explicação. Depois,
durante anos, não se viram.
Mas não se esqueceram. Elisa
me falava de Álvares comnostalgia,
um amor antigo e impossível,
um carma com o qual
ela só se preocuparia na próxima
encarnação.
Mas, um belo dia, bastou
um encontro casual para a
chama reacender. Elisa rapidamente
decidiu que a busca da
solução de um carma conhecido
não deveria ser adiada para
outra vida. E meteu as caras na
paixão.Mas a história do passado
se repetiu: se amaram
loucamente, mas não conseguiram
de novo falar abertamente
sobre os defeitos que
um via no outro.
—Éque nem anjo nem super-
herói podem ter defeitos.
E nós ainda não merecemos
ser apenas humanos.
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