quinta-feira, 10 de março de 2011

12/04/2009 -A cara de pau do meu ex

12/04/2009 a cara de pau do meu ex Ela foi chamada de louca, irresponsável e até egoísta. Nem mesmo seus pais lhe deram apoio no primeiro momento. Curioso foi que só sentiu o significado da palavra solidão quando decidiu de fato. Dali em diante, pela reação de todos, percebeu que só poderia contar com ela mesma. Esther tinha 26 anos quando resolveu se mudar para o Japão. Já seria uma decisão difícil se ela fosse completamente descompromissada. Mas tinha um filho, Kauê, então com 8. E, pior, o pai do garoto, seu ex-marido, de quem ela estava separada havia três anos, era grosseiro e autoritário. Mesmo separados, ele continuava a falar com ela como se tivesse direitos. — Nunca pagou a pensão em dia. Mas sempre achou que podia se meter na minha vida — Esther me contava. Estudar no Japão foi uma oportunidade única, que caiu do céu. Ela fez a inscrição na bolsa para pós de comércio internacional como se fosse uma aposta na loteria: ganhar era um sonho distante. Quando o comunicado da universidade chegou, ela mal acreditou. — Nem dinheiro guardado eu tinha. Fora o Kauê. Eu não poderia ficar longe do meu filho por quase três anos. Ela, porém, resolveu meter as caras. E enfrentar a família. — Meu pai perguntou: “Como você vai ter coragem de largar seu filho?” E, quando eu disse que ele ia junto comigo, a gritaria foi pior: “Sua irresponsável. Vai levar o menino para longe da família dele.” E eu respondi: “Mas a família dele sou eu!” E era isso mesmo. Arthur era um pai ausente. Além de não honrar com as pensões, era comum inventar uma desculpa para não ficar com o menino aos sábados e domingos. — Durante a semana, nunca aparecia. O menino sempre pedia para ele ir vê-lo jogar futebol com os amiguinhos do prédio, mas o Arthur dizia que não, que aquilo era bobagem. Eu que ia, como torcedora número 1 — lembra. Mesmo ausente, Arthur fez um escândalo quando ela lhe contou a novidade. Acusou Esther de querer afastar a criança dele. Mas, convencido pela namorada de que era melhor assim, acabou deixando para lá. Já os pais de Esther só se conformaram quando a viram vender tudo o que tinha. Primeiro, negociou o carro. Depois, as poucas joias. E foi embora com filho. No Japão, Esther alugou um apartamento e colocou Kauê numa escola para crianças brasileiras. O ex-marido raramente se comunicava. E parou de vez de depositar a pensão. Ela trabalhou de faxineira, babá, garçonete. — Só não trabalhei de puta. Mas até me ofereceram um programa. Uma colega da faculdade fez a oferta como se fosse a coisa mais comum do mundo. Quase morri de desgosto. Quando pôde pagar a escolinha de futebol para o menino, se sentiu o máximo. — Ele tinha talento. De volta ao Brasil, o garoto conseguiu fácil uma vaga no time mirim de um clube grande. Foi só então que o ex resolveu virar um pai presente. — Hoje, Arthur o exibe como um troféu. Ninguém acredita que ele nunca fez nada pelo garoto. E, quando conto como Kauê começou a jogar, da nossa dureza e solidão no Japão, da falta de estímulo do pai, me olham surpresos. Por mim, tudo bem! Mas não dá pra evitar a raiva da cara de pau deste meu ex.

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