domingo, 20 de março de 2011

Um homem perfeito

Marcela não sabia se queria só sexo ou se buscava um novo amor. Tentava de toda forma separar as duas coisas, como se isso fosse totalmente possível. O fato é que estava só, carente de corpo e também de alma quando encontrou Antero naquele desfile de modas. Ele era alto, magro, tinha o cabelo meio grisalho e um pouco comprido, que mantinha preso em um rabo de cavalo. Vestia um conjunto de roupas sóbrias, peças de grifes clássicas. Sua educação também parecia impecável.

— Um gentleman — me disse Marcela.

Antero tinha 14 anos a mais do que ela. Não que a diferença de idade fosse determinante para Marcela se envolver com alguém. Mas ela havia estado casada por sete anos com um cara sete anos mais jovem. Além disso, seu ex era baixo, meio gordinho e careca, e só usava roupas compradas no Brás. Ou seja, na cabecinha de Marcela, Antero era o que ela buscava: o exato oposto do seu ex. E ainda havia a chance de ele lhe proporcionar uma irresponsável aventura.

— Ele é demais! Parece assim o... Harrison Ford no “Indiana Jones 4”. Só não entendi direito o que faz. Acho que não é nada do bem. Deve ser contrabandista. Isso tudo é tão emocionante! — falou.

Marcela estava numa fase muito suscetível a novas paixões. Em um ano de separação, era o quarto homem perfeito pelo qual se apaixonava, número um tanto alto para uma mulher de quase 40 que, teoricamente, devia ser mais madura. A empolgação pelo novo caso era exagerada. E, talvez, perigosa.

— E vocês se conheceram como? — quis saber.

— Ele estava sozinho no desfile e sentou do meu lado. Entende tudo do assunto. Tecidos, cortes, combinações de cores, os nomes dos estilistas. Nunca conheci um homem de verdade que soubesse tudo de moda! Quando perguntei se era do ramo, disse que não, que comercializava pedras preciosas em todo o continente. De lá, saímos para comer e, depois, esticamos até um hotel.

— E como foi?

— Perfeito! Eu fui às alturas. Ele é muito gostoso. Tem um corpo, um jeito, uma mão e... — o rosto de Marcela mudou de repente e a empolgação murchou.

— E o quê?

— É que, apesar de ter sido maravilhoso, o negócio, bem... não funcionou. Era enorme, lindo, mas não funcionou.

— Ué, não entendi. Você disse que foi perfeito.

— Mas é por isso que eu tenho certeza que desta vez estou mesmo apaixonada! Pra mim o sexo vem antes de tudo. Mas o fato de não ter sido completo não teve a menor importância! Continuo louca por ele. Mas, sabe, já fiz uma bobagem: perguntei por que ele não usava Viagra...

— Assim, no primeiro encontro?!

— É... Ele ficou puto e foi embora.

— É, baby, nem o homem perfeito, que até de moda entende, agüenta uma pergunta assim, tão indiscreta, de uma mulher que acabou de conhecer.


Publicamos de 29 de junho de 2008

Um comentário:

Marcella disse...

Gostei, Vivi! Ótimo conto!!!