segunda-feira, 14 de março de 2011

20/12/2009 - Excesso de intimidade

Tudo o que Dana queria era


um banheiro para chamar de

seu. Naquelemomento de sua

vida, não era riqueza,nemum

carro e nem mesmo um novo

amor que mais desejava. Só se

esforçava mesmo em ter um

banheiro para ela, comseu gabinete,

suas gavetas, seu vaso

sanitário e seu chuveiro.

Para Dana, o banheiro era

um símbolo de liberdade e independência.

Por isso, ao conseguir

alugar um apartamento

com uma suíte, para onde se

mudou para viver sozinha, se

sentiu a mulher mais feliz e

realizada do mundo.

A história de Dana só vem

provar que a falta de um pouco

de privacidade, aos poucos,

pode acabar comum relacionamento

promissor. Há até

quem defenda que não há

amor que resista aos excessos

de intimidade. Foi o que aconteceu

com Dana e Rick.

A paixão que nutriam um

pelo outro se desmanchou ao

longo de pouco mais de cinco

anos de convivência dentro de

um apartamentominúsculo,

com sala, cozinha e apenas um

quarto e um banheiro. Nemas

juras de amor eterno trocadas

no início do namoro e a promessa

de que nenhum problema

abalaria sua união foram

capazes de mantê-los juntos.

Como só teve dinheiro para

comprar um imóvel pequeno,

logo no início da vida em comum,

o casal estabeleceu um

rígido escalonamento diário

de horários para o uso do banheiro.

É que, na primeira semana

de convivência, perceberam

que a medida era obrigatória

se ambos quisessem

cumprir pontualmente os seus

compromissos de trabalho.

A ideia até que deu certo,

mas, diferentemente do que se

poderia imaginar, não era a rigidez

da escala de horários do

banheiro que irritava Dana.O

que ela não suportava era a falta

de cuidado de Rick.
 
—Sempre quando ele entra


no banheiro deixa a porta

aberta, em qualquer hora do

dia. E a bagunça que ele deixa

lá é inacreditável. Encontrei

várias vezes a minha toalha suja

de creme de barbear. Para

não falar coisas piores — ela

contava.

É lógico que a falta de privacidade

não se limitava ao banheiro,

pois todo apartamento

era minúsculo. E Rick não era

uma pessoa organizada.

No quarto, por exemplo,

Dana reclamava que o marido

colocava roupas dele em qualquer

gaveta do armário, sem se

preocupar a quem ela pertencia.

E que várias vezes deixava

suas meias sujas junto com as

dela, sempre limpas. Na cozinha,

várias vezes, ela encontrou

engordurados documentos

importantes que pertenciam

ao marido. E era comum,

em qualquer lugar do apartamento,

coisas dela se perderem

no meio da bagunça dele.

Rick, por sua vez, não levava

a sério as reclamações.

—Somos casados. A vida

de casado é assim mesmo—

ele brincava.

Mas Dana não achava graça.

E, um dia, vendo uma revista

de imóveis, descobriu

qual era o seu maior desejo.

— Tinha lá a planta de uma

casa com suíte. Pensei: “É disso

que eu preciso.”

Rick, como sempre, não levoua

conversa a sério. E a perdeu

de vez. Dana pediu a separação

e foi alugar um apartamento

sozinha. E, ao negociar

com o corretor, só fazia uma

exigência: o imóvel tinha que

ter dois banheiros.

— É que não quero no meu

nem vestígios de uma visita.

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