Tudo o que Dana queria era
um banheiro para chamar de
seu. Naquelemomento de sua
vida, não era riqueza,nemum
carro e nem mesmo um novo
amor que mais desejava. Só se
esforçava mesmo em ter um
banheiro para ela, comseu gabinete,
suas gavetas, seu vaso
sanitário e seu chuveiro.
Para Dana, o banheiro era
um símbolo de liberdade e independência.
Por isso, ao conseguir
alugar um apartamento
com uma suíte, para onde se
mudou para viver sozinha, se
sentiu a mulher mais feliz e
realizada do mundo.
A história de Dana só vem
provar que a falta de um pouco
de privacidade, aos poucos,
pode acabar comum relacionamento
promissor. Há até
quem defenda que não há
amor que resista aos excessos
de intimidade. Foi o que aconteceu
com Dana e Rick.
A paixão que nutriam um
pelo outro se desmanchou ao
longo de pouco mais de cinco
anos de convivência dentro de
um apartamentominúsculo,
com sala, cozinha e apenas um
quarto e um banheiro. Nemas
juras de amor eterno trocadas
no início do namoro e a promessa
de que nenhum problema
abalaria sua união foram
capazes de mantê-los juntos.
Como só teve dinheiro para
comprar um imóvel pequeno,
logo no início da vida em comum,
o casal estabeleceu um
rígido escalonamento diário
de horários para o uso do banheiro.
É que, na primeira semana
de convivência, perceberam
que a medida era obrigatória
se ambos quisessem
cumprir pontualmente os seus
compromissos de trabalho.
A ideia até que deu certo,
mas, diferentemente do que se
poderia imaginar, não era a rigidez
da escala de horários do
banheiro que irritava Dana.O
que ela não suportava era a falta
de cuidado de Rick.
—Sempre quando ele entra
no banheiro deixa a porta
aberta, em qualquer hora do
dia. E a bagunça que ele deixa
lá é inacreditável. Encontrei
várias vezes a minha toalha suja
de creme de barbear. Para
não falar coisas piores — ela
contava.
É lógico que a falta de privacidade
não se limitava ao banheiro,
pois todo apartamento
era minúsculo. E Rick não era
uma pessoa organizada.
No quarto, por exemplo,
Dana reclamava que o marido
colocava roupas dele em qualquer
gaveta do armário, sem se
preocupar a quem ela pertencia.
E que várias vezes deixava
suas meias sujas junto com as
dela, sempre limpas. Na cozinha,
várias vezes, ela encontrou
engordurados documentos
importantes que pertenciam
ao marido. E era comum,
em qualquer lugar do apartamento,
coisas dela se perderem
no meio da bagunça dele.
Rick, por sua vez, não levava
a sério as reclamações.
—Somos casados. A vida
de casado é assim mesmo—
ele brincava.
Mas Dana não achava graça.
E, um dia, vendo uma revista
de imóveis, descobriu
qual era o seu maior desejo.
— Tinha lá a planta de uma
casa com suíte. Pensei: “É disso
que eu preciso.”
Rick, como sempre, não levoua
conversa a sério. E a perdeu
de vez. Dana pediu a separação
e foi alugar um apartamento
sozinha. E, ao negociar
com o corretor, só fazia uma
exigência: o imóvel tinha que
ter dois banheiros.
— É que não quero no meu
nem vestígios de uma visita.
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