UM PEDIDO DE TIA
Conceição levou um susto quando recebeu a
visita de seu sobrinho, Carlinhos. O rapaz era filho
do seu irmão caçula, que tinha morrido de desgosto.
O motivo: a vida errada do menino, preso
por roubo a banco.
Carlinhos sempre fora um problema na família.
Desde pequeno se envolvia em confusões. Formou
uma turma no bairro e se divertia realizando
pequenos furtos na vizinhança. Seu pessoal levava
peças de carros das garagens das casas, cigarros das
padarias, bebidas dos mercadinhos.
Não gostava de estudar e a escola passou a ser só
o motivo para sair de casa à noite. Nem entrava na
aula. Do portão da entrada, saía com sua gangue
pela cidade. Nesta fase adolescente, praticava roubos
fingindo estar armado. Atacava postos de gasolina,
farmácias no plantão noturno, serviços 24
horas.Emumade suas investidas, foi pego e levado
para a Febem. Lá ficou três meses, mas a detenção
não o fez mudar. Ao contrário. O tempo internado
o tornou ainda mais audacioso.
Então, aos 18, Carlinhos entrou para uma quadrilha
que roubava bancos. Adorou o ramo. Por
cinco anos, conseguiu sair limpo.Até que foi preso.
Passou quatro anos numa penitenciária, até
que fugiu. Ficou escondido por algum tempo, foi
recapturado, e não deu mais notícias. A família
também procurou esquecer da sua existência.
Até que tocou a campainha da casa da tia. Conceição
era sua madrinha, já tinha 70, e o moço
sempre se lembrava dos mimos que ganhava dela.
Era a única da família por quem guardava afeto.
Conceição demorou para reconhecê-lo. Viu na
sua frente um homem vistoso, muito bem vestido
e com uma cara saudável e alegre.
— Tia, lembra de mim? Dê-me cá um abraço!
Aidosa fingiu um sorriso feliz, mas estava desconfiada.
Ele sentou-se no sofá, ganhou café e bolo
de fubá. Perguntou dos primos, dos outros tios, se
alguém tinha morrido e se havia crianças novas no
pedaço. A tia respondia, tentando dar normalidade
ao ambiente, até que não aguentou.
—E você, Carlinhos, o que temfeito? Saiu daquela
vida de sustos? Não estava preso?
— Ah, tia, eu sou especialista na profissão...
Conceição entendeu bem as meias-palavras do
sobrinho e não teve dúvidas: ele era ladrão profissional,
provavelmente ainda de bancos.
— Então, meu filho, vou te pedir: não chega
perto da agência da Caixa lá do Centro da cidade. É
lá queminha Dorinha trabalha. Diz pro seu pessoal
que ali não é pra mexer, tá bom?
— Pode deixar, tia, pode deixar! — garantiu.
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