quinta-feira, 10 de março de 2011

31/05/2009 - Um pedido de tia

UM PEDIDO DE TIA


Conceição levou um susto quando recebeu a

visita de seu sobrinho, Carlinhos. O rapaz era filho

do seu irmão caçula, que tinha morrido de desgosto.

O motivo: a vida errada do menino, preso

por roubo a banco.

Carlinhos sempre fora um problema na família.

Desde pequeno se envolvia em confusões. Formou

uma turma no bairro e se divertia realizando

pequenos furtos na vizinhança. Seu pessoal levava

peças de carros das garagens das casas, cigarros das

padarias, bebidas dos mercadinhos.

Não gostava de estudar e a escola passou a ser só

o motivo para sair de casa à noite. Nem entrava na

aula. Do portão da entrada, saía com sua gangue

pela cidade. Nesta fase adolescente, praticava roubos

fingindo estar armado. Atacava postos de gasolina,

farmácias no plantão noturno, serviços 24

horas.Emumade suas investidas, foi pego e levado

para a Febem. Lá ficou três meses, mas a detenção

não o fez mudar. Ao contrário. O tempo internado

o tornou ainda mais audacioso.

Então, aos 18, Carlinhos entrou para uma quadrilha

que roubava bancos. Adorou o ramo. Por

cinco anos, conseguiu sair limpo.Até que foi preso.

Passou quatro anos numa penitenciária, até

que fugiu. Ficou escondido por algum tempo, foi

recapturado, e não deu mais notícias. A família

também procurou esquecer da sua existência.

Até que tocou a campainha da casa da tia. Conceição

era sua madrinha, já tinha 70, e o moço

sempre se lembrava dos mimos que ganhava dela.

Era a única da família por quem guardava afeto.

Conceição demorou para reconhecê-lo. Viu na

sua frente um homem vistoso, muito bem vestido

e com uma cara saudável e alegre.

— Tia, lembra de mim? Dê-me cá um abraço!

Aidosa fingiu um sorriso feliz, mas estava desconfiada.

Ele sentou-se no sofá, ganhou café e bolo

de fubá. Perguntou dos primos, dos outros tios, se

alguém tinha morrido e se havia crianças novas no

pedaço. A tia respondia, tentando dar normalidade

ao ambiente, até que não aguentou.

—E você, Carlinhos, o que temfeito? Saiu daquela

vida de sustos? Não estava preso?

— Ah, tia, eu sou especialista na profissão...

Conceição entendeu bem as meias-palavras do

sobrinho e não teve dúvidas: ele era ladrão profissional,

provavelmente ainda de bancos.

— Então, meu filho, vou te pedir: não chega

perto da agência da Caixa lá do Centro da cidade. É

lá queminha Dorinha trabalha. Diz pro seu pessoal

que ali não é pra mexer, tá bom?

— Pode deixar, tia, pode deixar! — garantiu.

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