ARMADO SÓ
POR AMOR
Com uma arma na mão ele
foi dizer que a amava. E já fazia
tempo. Júnior cercava Dirce há
meses. Primeiro, se fez amigo.
Ele, assim que chegou do interior,
hospedou-se na casa dela.
— Eu dividia o aluguel com
uma amiga, e ele era primo dela.
Como a gente tinha dois
quartos, ele foi morar em um
— me contou Dirce.
Os dois ficaram amigos. Se
uniram para batizar a filha de
uma vizinha, saiam com frequência,
faziam o jantar juntos
diariamente. Júnior sempre
era amável, mas Dirce garante
que nunca suspeitou que era
mais que amizade.
Depois de alguns meses,
enfim, Júnior se declarou. Disse
que estava apaixonado.
— A gente tinha ido a uma
festa e ele bebeu um pouco.
Acabou me puxando para um
canto, dizendo que era louco
por mim. Mas logo cortei. Não
tinha nada a ver. Eu nunca senti
nenhuma atração por ele.
Dirce preferiu deixar o
apartamento que dividia com
a amiga e o primo. Foi morar
com a irmã, Dinorah.
Mas Júnior voltou a procurá-
la, queria pedir desculpas,
dizer que se confundiu. E foi
então que conheceu Dinorah.
Alguns encontros depois, ele e
a irmã de Dirce estavam namorando.
Minha amiga até
que ficou aliviada. Afinal, a irmã
parecia feliz e Júnior não a
incomodava mais. Mas, numa
noite, quando chegou em casa
e encontrou o casal, ele começou
a maltratá-la.
— Você só sai com gente esquisita.
Seus namorados são
todos uns babacas — disse.
Depois deste dia, sempre
criticava o que fazia. Quando
estavam sós, porém, a tratava
bem e tentava provar ser seu
amigo. Na presença dos outros,
a desrespeitava e até xingava.
A moça reclamava com a
irmã, mas Dinorah parecia
não se incomodar com o comportamento
do namorado.
Parecia até se divertir.
— O que ele sentia de bom
por você no começo parece
que virou ódio! — afirmava.
O pior, porém, quase aconteceu
numa tarde de sábado.
—Júnior chegou em casa e
começou a falar coisas sem
sentido. Tinha bebido. Minha
irmã havia saído e eu estava só.
Ele me xingava e dizia que eu
devia ir embora daquela casa,
deixá-lo em paz. E eu retrucava,
falava que morava lá e que
ele era o estranho. De repente,
ele veio pra cima de mim e me
empurrou. Eu reagi e dei um
tapão na cara dele.Mas quando
olhei na sua cintura, percebi
que estava armado. Tremi e
achei mesmo que ia morrer.
Mas ele viu meu pavor e se sentou,
atordoado. Então, tirou a
arma da cintura, a colocou na
mesa e me disse: ‘Eu te amo,
você não percebe? Vim aqui
armado porque te amo. Queria
te matar, porque, se não ficar
comigo, não fica com mais
ninguém. Mas não tenho coragem.’
E começou a chorar.
Dirce conta que foi mais rápida
que o rapaz. Enquanto ele
chorava como um bebê, ela
pegou a arma e apontou contra
ele, sem pestanejar.
— Quando você for fazer
alguma coisa, não ameaça. Faz
de uma vez! Se me ameaçar de
novo, sou eu que acabo com
você! E de verdade!
O rapaz saiu assustado,
com ela gritando atrás dele,
mandando ele sumir. Fugiu
sem conseguir pronunciar
uma palavra. Tremendo, Dirce
escondeu a arma no fundo do
guarda-roupas. E só então
pensou no que fez. Se jogou na
cama e chorou até dormir
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