segunda-feira, 14 de março de 2011

22/11/2009 meu lugar preferido

22/11/2009 meu lugar preferido — Não há motivo para a gente cutucar uma ferida da alma. Ela é como qualquer ferida do corpo. Você não vai mexer em um machucado aberto, vai? Por que, então, faz isso com a sua alma machucada? Deixa cicatrizar. Era assim que Teresa, entre metáforas, falava para Joana sobre como lidar com seus sentimentos feridos. Joana estava querendo desistir da vida. Sofria a dor do abandono, do ciúme, do rancor. Ao se ver sozinha e com aquele a quem chamava de “meu amor” com outra, ela caiu em desespero. E começou, freneticamente, a procurar saber da vida do novo casal — seu ex e a nova namorada. — Entrei no orkut dela e vi os recados. Ela está feliz! Estão mesmo vivendo um romance. Tem até fotos dos dois aos beijos — dizia, aos prantos. Na verdade, não era só no orkut que Joana procurava saber sobre o relacionamento dos dois. Ela entrava no msn, no facebook e em qualquer outro meio que descobria. — Ela estava doente — me explicou Teresa, nossa amiga em comum. — Não percebia que, quanto mais buscava saber dos dois, menos pensava nela própria. E só fazia doer ainda mais sua ferida. Joana e Ricardo tinham brigado por alguma banalidade qualquer. Nem um, nem outro sabia dizer o que havia acontecido de fato. Quando os amigos perguntavam por que haviam se separado, não conseguiam responder. E, quando tentavam explicar, o motivo parecia tão pequeno perto do tamanho da saudade que sentiam um do outro que até preferiam não falar mais, encerrar o assunto. Só não se procuravam porque eram orgulhosos. O problema é que os dois, na hora da briga, deixaram a raiva falar mais alto. Joana, para fazer ciúmes, fingiu ter interesse em outra pessoa. Ricardo, de vingança, colocou no orkut a foto da nova namorada, uma menina que ele havia acabado de conhecer. E Joana surtou. Foi até a casa dele e fez escândalo. Disse a ele que não queria mais vê-lo. Mas, mesmo assim, não parava de procurar saber da vida do rapaz. Joana, por mais de um ano, sofreu por causa deste romance mal acabado. Teresa dizia a ela que não era amor. — Isto é apego, é amor-próprio ferido. Amor não dá depressão e tristeza. Até que Joana resolveu mudar. Primeiro, se esforçou para parar de vasculhar a vida do ex. E foi difícil, porque era um vício. Achou que iria esquecê-lo. Não conseguiu. Mas teve que reconhecer que a dor diminuiu. O segundo passo foi passar a curtir a própria vida, reconstruir a autoestima. Conseguiu e ficou feliz. Mas, mesmo assim, continuava a ter saudades de Ricardo. Foi então que o encontrou na rua, como um acaso do destino. E voltaram a conversar. Demorou pouco e se descobriram apaixonados, numa relação muito melhor do que a de antes. Estavam se amando, num romance leve e sem cobranças. Então, apelou às metáforas para explicar o que havia acontecido com ela: — Eu aprendi a evitar os machucados, a não cutucar mais as feridas, como a Teresa me disse. Também aprendi a tomar cuidado nos caminhos, para não tropeçar. Mas decidi que não vou mais evitar os lugares que gosto. E ele é, hoje, o meu lugar preferido.

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