segunda-feira, 14 de março de 2011

15/11/2009 SÓ UM BEBÊ CRESCIDO

15/11/2009 SÓ UM BEBÊ CRESCIDO A briga foi a maior de todos os últimos anos e Isabel, enfim, proclamou: — Acabou, não quero mais viver com você. Não sou sua babá, nem uma de suas irmãs e muito menos sua mãe. Chega! Ela e Tiago moravam juntos há sete anos. E há dois o relacionamento deles não andava bem. O rapaz, único filho homem de um casal que tinha mais quatro mulheres, dependia dela para todas as coisas práticas da vida. Isabel não aguentava mais. — Eu tinha que fazer tudo para ele. Desde compra de roupas até a marcação de uma consulta com um médico. E, depois, ainda passava na farmácia para comprar os remédios e dizia pra ele como tinha que tomar. Cansei de ser tratada como se fosse uma mãe. No dia que ela explodiu, Tiago concordou com Isabel. Também não queria mais viver com ela, que sempre criticava sua falta de iniciativa. — Então, é melhor a gente se separar mesmo. Mas o apartamento é meu. É você quem terá que sair. Isabel concordou. Nada mais justo, pensou. Ela havia se mudado para o apartamento de Tiago assim que terminou a faculdade de nutrição. Ele era arquiteto e ganhava bem. Ela estava em começo de carreira. Ele era quem bancava as principais despesas da casa. Mas, de imediato, Isabel não teria para onde ir. Então, respirou fundo e fez o pedido: — Eu vou embora, sim, mas me dá um tempo para procurar um outro lugar para morar. Acho que eu encontro rápido um bom apartamento. Já no dia seguinte, Isabel começou a procurar um imóvel para alugar. Para evitar Tiago, chegava em casa mais tarde, quando ele já estaria dormindo, e se acomodava em outro quarto. Ficaram assim por duas semanas, se falando o mínimo possível. Na terceira semana, Isabel encontrou um bom apartamento, bem perto de onde os dois moravam. E anunciou: — Olha, Tiago, mudo em duas semanas. É o tempo para assinar a papelada e mobiliar o apartamento com o básico. Ele concordou e ainda disse, com um certo de ar de superioridade: — Legal. Se precisar de ajuda, é só pedir. Na sexta-feira, véspera do fim de semana que ela escolheu para se mudar, ele amanheceu se dizendo doente. — Acho que peguei a gripe suína. Estou com muita dor no corpo e com febre. — Mas de quanto é a febre? — Não medi, mas estou. — A febre está baixa — disse Isabel, ao colocar a mão na testa de Tiago. — Mas, de todo jeito, você deve ir ao médico. Tiago não foi, mas ficou se arrastando pela casa, gemendo. Mesmo assim, ela fez as malas, pegou os poucos objetos que eram dela, colocou na Kombi que tinha alugado para a mudança e foi embora. No domingo à tarde, porém, seu celular tocou e ela já sabia que era Tiago. — Oi, queria te pedir... Você pode dormir aqui esta noite? É que eu não melhorei, a febre aumentou e, de verdade, estou com medo de passar a noite toda sozinho, doente. Isabel ficou desconcertada. Riu sozinha do outro lado da linha e pensou: “Que bebê crescido é este meu ex”. E então respondeu: — Tudo bem, eu vou. Mas antes vamos ao médico.

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