quinta-feira, 10 de março de 2011

27/09/2009 UMA BELA MULHER

27/09/2009 UMA BELA MULHER Linda acordou cedo. Estava ansiosa para voltar ao trabalho depois de quatro meses afastada. Tomou um banho prolongado, passou hidratante em todo o corpo, escolheu um belo vestido para sair, azul e branco, passou uma maquiagem leve, complementada com um batom vermelho. Ao se olhar no espelho, sorriu. Parecia feliz. Quem a visse naquele dia não acreditaria na sua recente história. Linda tinha sido abandonada pelo marido. Depois de oito anos juntos, sem um motivo aparente, briga ou discussão anterior, Jairo simplesmente disse “tchau, não quero mais continuar casado”. Pior, no período em que ela estava machucada, após um acidente de carro. Estava ainda de cama. — Eu não entendi o que aconteceu. Um dia, me mandou flores e uma mensagem no celular dizendo que me amava, que eu era e seria sempre a mulher da vida dele. No outro, fez as malas e foi embora. Ao meu irmão, disse que eu não lhe dava atenção, porque eu queria continuar na cidade e não mudar para a praia. Para mim, o projeto de mudança para a praia era a longo prazo. Ele nunca mais me ligou. Depois de quatro anos de namoro e quatro de casamento. Acho que perdeu a razão. Também largou o emprego e não avisou aos amigos que iria embora. Dizem que montou uma barraca de sucos numa praia do Nordeste. Foi um golpe duro para Linda, que ainda acreditava no casamento e no “foram felizes para sempre”. Mas ela decidiu que não permitiria que o mundo sentisse pena dela. E o “mundo” incluía ela própria. Então, foi à luta para manter sua autoestima em alta. Retomou uma pós-graduação que estava meio parada e resolveu se cuidar mais do que quando estava casada, mantendo o regime, a depilação, a manicure e os cabelos em ordem. — Nada disso de ficar peluda e descabelada por causa de homem. E não vou ficar chorando pelos cantos e me lamentando com todo mundo — dizia. Também aumentou os gastos com ela mesma: sempre roupas bonitas, bijuterias de bom gosto, perfumes de qualidade. E foi assim que Linda chegou àquele dia na repartição, bela e bem vestida, cheirosa, sorrindo e radiante. Ao longo dos dias, todos percebiam o seu cuidado com os outros. Antes do golpe, ela já era uma pessoa delicada, mas agora parecia mais atenta às suas respostas e reações. Se estava triste, ficava quieta. Se tinha raiva, direcionava seu pensamento para aquele que a largou. Mas nunca foi descortês com amigos ou colegas. — Ninguém tem culpa da minha tristeza ou amargura — afirmava. A moça foi uma fortaleza sem fim. Assim se passaram meses. E a vida, enfim, lhe compensou com um novo amor, doce e sincero. Até quando? Só o tempo vai dizer. E ela não se preocupa com isso. Mas eu, da história de Linda, o que mais gostei, talvez, nem ela tenha percebido. É que, durante o seu esforço para se manter em pé, manteve fechados os ouvidos às mulheres invejosas e aos rapazes inseguros que diziam às suas costas que ela, porque foi dispensada por um, estava à cata de qualquer um, custasse o que custasse. E eles se deram muito mal. Porque ela estava feliz.

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