segunda-feira, 28 de março de 2011

14/03/2010 - Dores da traição

DORES DA


TRAIÇÃO

Magali sempre falava para

quem quisesse ouvir:

— Eu não perdôo a traição.

Parecia certo.Afinal, Juarez

teve coragem de arrumar outra

mulher quando a filhinha

deles ainda era um bebê.Nada

parecia mais cruel e egoísta.

Com a maternidade,Magali

havia perdido um pouco

da exuberância. Também não

tinha a mesma disposição para

o sexo. Mas era uma fase — todo

mundo dizia — que passaria

quando a criança crescesse

um pouco. Por isso,Magali só

teve apoio quando decidiu colocar

Juarez para fora de casa.

Ele foi morar com a outra.

Só que ninguém podia negar

uma coisa: Juarez era um

bom pai. Ele era amoroso e

atencioso. Irresponsável, é certo,

mas seus olhos tinham

sempre um brilho de paixão

quando viam a pequena Isabela,

chamada de “meu docinho”.

Isso, porém, não tinha

importância diante do ódio

que Magali alimentava pelo ex.

E ela criou a filha repetindo

quase que diariamente:

— Você não tem pai.

Isabela cresceu impedida

de amar o pai. Toda vez que ele

aparecia, a mãe soltava um

alerta— uma frase para diminuí-

lo ou para demonstrar

que ele era sempre um perigo.

“Cuidado para ele não levar a

sua mesada” ou ainda “Pergunta

para ele quando vai pagar

a pensão direito”.

A pequena via o pai com

uma curiosidade carinhosa.

Queria do fundo do coração se

aproximar dele, saber o que

pensava. Mas sempre parava

no aviso autoritário da mãe:

— Seu pai não presta!

No fundo, Isabela sentia

falta do pai, mas nunca reconhecia

isso. Se tentasse, o que

vinha era a culpa que a mãe logo

tratava de fazê-la sentir:

— Ele nos traiu!Me deixou

quando você ainda era bebê.

Mas ainda bem que crianças

se transformam emadultos.

Um dia, Isabela arrumou

um namorado. A mãe não

gostou e passou a criticar o

moço do mesmo jeito que falava

mal de Juarez. E também escorraçou

o segundo, e depois o

terceiro, e ainda o quarto namorado

da filha. Ela era antipática,

arrogante e grosseira

com os rapazes. E, pelas costas

deles, sempre repetia amesma

ladainha preconceituosa.

— Esse aí parece outro traste

igual ao seu pai.

Foi então que Isabela começou

a desconfiar que algo

estranho acontecia com Magali.

Umdia, no meio de uma

das brigas que então eram frequentes

entre elas, encontrou a

palavra para o que a mãe era.

— Você é ressentida! Não

consegue amar ninguém! Por

isso não quer que eu namore.

Quase romperam, mas não

foi dessa vez. Só que ainda demoroumuito

até que encontrasse

alguém compaciência

para “levar” Magali com jeito.

Até que Jorge apareceu. Rapaz

bonachão, mas muito apaixonado,

ele resolveu enfrentar

Magali com um pouco de sarcasmo.

Cada patada da sogra

era retribuída com outra. Depois,

aprendeu a ignorá-la. E,

quando decidiram se casar, só

impôs uma condição: queria

morar longe da casa da sogra.

Quanto ao pai? Bem, Jorge

já tinha ajudado nisso também.

Foi ele quem procurou

Juarez e promoveu vários encontros

entre pai e filha. Juarez

agora era um velho irresponsável,

mas de bom coração. E, o

que era mais importante: seus

olhos ainda brilhavam de paixão

quando viam Isabela, sua

pequena e doce Isabela.

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