quinta-feira, 10 de março de 2011

10/05/2009 -Sob o olhar de Frô

SOB O OLHAR DE FRÔ


Aprimeira vez não deu certo. Pormais queBel

tenha se esforçado, o encontro tão desejado foi um

desastre. Ele não se soltou, ela ficou constrangida

e, no final, no meio da madrugada, Tarciso achou

melhor vestir as suas roupas e sair, quase mudo.

Não precisava. Bel morava sozinha, e o dia seguinte

era um domingo.Mas o sexo não rolou direito

e o depois foi mais frio do que um iceberg. Bel

foi dormir achando que ele nunca mais ligaria.

Tarciso tinha 28 e Bel, quase 40. Eles se conheciam

de festas, onde sempre se trombavam por

conta de amigos em comum. Desde a primeira vez

que o viu, se sentiu atraída, principalmente pelo

corpo perfeito. Mas a diferença de idade a desanimava.

Além disso, o rapaz era radical de esquerda,

trabalhava numsindicato, era filiado ao PCO e

ainda acreditava na revolução do proletariado.

Bel, secretária executiva de uma multinacional,

amante de todos os tipos de importados, não chegava

a ser politicamente incorreta, mas sempre

achou que o Tarciso tinha ideias fora de sua época.

Ela só podia imaginar que o encontro com ele seria

para lá de maçante, sem romantismo.

Para piorar, os dois tinham um grande amigo

em comum, o Léo, que era apaixonado por Tarciso.

Bel sentia como se fosse trair o “cúmplice” de

longa data, mesmo Tarciso não sendo gay.

Mas a atração física pesou mais e, um dia, no

meio de uma balada, ela resolveu aceitar as investidas

do moço. Eles trocaram beijos, mas Bel preferiu

convidá-lo para jantar na sua casa, no dia seguinte.

Antes, ligou para o amigo gay e perguntou

se ele não se importava por ela sair com Tarciso.

— Lógico que não, amiga. O bofe é seu!

Sinal verde dado, Bel se sentiu à vontade para

tirar os candelabros do armário, colocar os lençóis de cetim na cama e preparar o melhor macarrão


que sabia fazer. Tarciso levou vinho chileno e não

falou em nenhum momento sobre política. Estava

tudo caminhando para ser 100%, mas aí...

— Aí, quando a gente estava na cama, a minha

cadela, a Frô, começou a rosnar e a olhar para o

Tarciso a cadamovimento mais brusco. Acho que

ficou com ciúmes, já que dorme no meu quarto.

Estou certa que foi por isso que não rolou.

Uma semana depois, porém, Bel já tinha quase

esquecido o fiasco do seu último fim de semana,

quando Tarciso ligou pedindo outro encontro.

— Desta vez foi tudo perfeito mesmo, uma delícia.

Já estou até com saudades do “comunista”.

— E a Frô, como se comportou?

— Calada. É que eu tranquei ela na área de serviço.

E ele nem perguntou onde ela estava.

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