DE PREVISÕES
E ALENTOS
Todamulher gosta de cartomantes.
Atire a primeira pedra
aquela que nunca teve
vontade de jogar tarô para saber
mais sobre o seu futuro no
trabalho ou no amor. Se não
são cartas, são runas, búzios,
leitura dasmãos ou qualquer
outro oráculo da moda. Homens
também gostam, mas
sãomais discretos. Não espalham
por aí que vão mesmo a
cartomantes e nem chegam
para os amigos e anunciam:
“Colega, conheci uma taróloga
maravilhosa! Você precisa ir
lá.” Só mulheres fazem isso.
Num bate-papo de fim de
tarde, um grupo de amigas
conta sobre suas aventuras
com cartomantes. E eu estou lá
para escutar. Silvia diz que frequenta
cartomantes desde os
14 anos. Procura conhecer todas
que lhe indicam e paga o
preço que for por suas previsões.
Mas diz que nunca acredita
no que lhe revelam. Vai
porque as previsões sempre
deixam em sua alma um alento,
uma esperança.
— É que a gente sai de lá
mais leve, acreditando na vida,
que pode ser feliz, essas coisas.
Fica sempre uma esperança,
um carinho, sabe? — diz, com
uma certa tristeza na voz.
Já Laura conta que sempre
teve vontade de ir a uma taróloga,
mas a coragempara pagar
por previsões demorou a
chegar. Já tinha quase 40 quando
enfrentou a sua primeira
consulta esotérica— uma astróloga
que cobravamuito caro
para fazer omapa astral baseado
nas vidas passadas do
cliente. Laura levou uma lista
de nomes com datas de aniversário
para amulher lhe dizer o
que cada pessoa significava na
sua vida presente.
— Sabe o João, aquele caso
mal resolvido que eu tenho,
que há anos não ata nem desata?
Pois é, fui coma maior esperança
de que elame revelasse
que aquilo era uma bobagem,
uma ilusão, que eu iria
esquecê-lo e que outro homem
maravilhoso ia aparecer
na minha vida. Mas sabe o que
elame disse? Que ele era aminha
alma gêmea. E que os relacionamentos
com as nossas almas
gêmeas são os mais difíceis
que existem. Quase pedi
meu dinheiro de volta!
Sandra também já foi em
várias cartomantes. E garante
que elas nunca acertam. Ou
melhor, diz que de todas as que
já foi, apenas uma acertou. Ela
não consegue esquecer o ambiente
da consulta e a forma
como foi atendida, em apenas
três minutos, pela mulher.
— Ela era muito pobre, miserável
mesmo.Morava numa
casa minúscula no Capão Redondo,
lá na Zona Sul de São
Paulo. Mas lia de graça o futuro
da gente em um copo
d’água. O clientemesmo lavava
o copo e o enchia comágua
na pia da cozinha. Depois, ela
mandava você colocar um
pouco de sal na água. E, então,
fazia umas orações segurando
o copo e dizia para você ver a
imagem na água.
Sandra diz que sempre se
emociona quando lembra daquele
dia. Afirma que entrou
numa espécie de transe e viu
na água salgada a imagem nítida
de um homem.
— Ela deu a data que eu ia
conhecê-lo e disse que aquele
homem seria a minha desgraça.
E acertou. Conheci Alberto
num dia bem próximo ao que
ela disse e a foto dele quando
jovemera idêntica à imagem
que vi na água. E aquele homem
foi a minha desgraça.
Um amor que nunca deu certo,
uma história que poderia
ter sido, mas que nunca foi.
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