segunda-feira, 14 de março de 2011

27/12/2009 - de previsões e alentos

DE PREVISÕES


E ALENTOS

Todamulher gosta de cartomantes.

Atire a primeira pedra

aquela que nunca teve

vontade de jogar tarô para saber

mais sobre o seu futuro no

trabalho ou no amor. Se não

são cartas, são runas, búzios,

leitura dasmãos ou qualquer

outro oráculo da moda. Homens

também gostam, mas

sãomais discretos. Não espalham

por aí que vão mesmo a

cartomantes e nem chegam

para os amigos e anunciam:

“Colega, conheci uma taróloga

maravilhosa! Você precisa ir

lá.” Só mulheres fazem isso.

Num bate-papo de fim de

tarde, um grupo de amigas

conta sobre suas aventuras

com cartomantes. E eu estou lá

para escutar. Silvia diz que frequenta

cartomantes desde os

14 anos. Procura conhecer todas

que lhe indicam e paga o

preço que for por suas previsões.

Mas diz que nunca acredita

no que lhe revelam. Vai

porque as previsões sempre

deixam em sua alma um alento,

uma esperança.

— É que a gente sai de lá

mais leve, acreditando na vida,

que pode ser feliz, essas coisas.

Fica sempre uma esperança,

um carinho, sabe? — diz, com

uma certa tristeza na voz.

Já Laura conta que sempre

teve vontade de ir a uma taróloga,

mas a coragempara pagar

por previsões demorou a

chegar. Já tinha quase 40 quando

enfrentou a sua primeira

consulta esotérica— uma astróloga

que cobravamuito caro

para fazer omapa astral baseado

nas vidas passadas do

cliente. Laura levou uma lista

de nomes com datas de aniversário

para amulher lhe dizer o

que cada pessoa significava na

sua vida presente.

— Sabe o João, aquele caso

mal resolvido que eu tenho,

que há anos não ata nem desata?

Pois é, fui coma maior esperança

de que elame revelasse

que aquilo era uma bobagem,

uma ilusão, que eu iria

esquecê-lo e que outro homem

maravilhoso ia aparecer

na minha vida. Mas sabe o que

elame disse? Que ele era aminha

alma gêmea. E que os relacionamentos

com as nossas almas

gêmeas são os mais difíceis

que existem. Quase pedi

meu dinheiro de volta!

Sandra também já foi em

várias cartomantes. E garante

que elas nunca acertam. Ou

melhor, diz que de todas as que

já foi, apenas uma acertou. Ela

não consegue esquecer o ambiente

da consulta e a forma

como foi atendida, em apenas

três minutos, pela mulher.

— Ela era muito pobre, miserável

mesmo.Morava numa

casa minúscula no Capão Redondo,

lá na Zona Sul de São

Paulo. Mas lia de graça o futuro

da gente em um copo

d’água. O clientemesmo lavava

o copo e o enchia comágua

na pia da cozinha. Depois, ela

mandava você colocar um

pouco de sal na água. E, então,

fazia umas orações segurando

o copo e dizia para você ver a

imagem na água.

Sandra diz que sempre se

emociona quando lembra daquele

dia. Afirma que entrou

numa espécie de transe e viu

na água salgada a imagem nítida

de um homem.

— Ela deu a data que eu ia

conhecê-lo e disse que aquele

homem seria a minha desgraça.

E acertou. Conheci Alberto

num dia bem próximo ao que

ela disse e a foto dele quando

jovemera idêntica à imagem

que vi na água. E aquele homem

foi a minha desgraça.

Um amor que nunca deu certo,

uma história que poderia

ter sido, mas que nunca foi.

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