segunda-feira, 14 de março de 2011

29/11/2009 - UM HOMEM confuso

E lá ia Álvares de novo. No


bar, andando em meio às mesas,

conversando com todos.

De repente, viu alguém na

multidão. E sentiu de novo

aquela sensação maravilhosa

do flertar e conquistar.

Ela parecia interessante.

Alegre, falante, sexy. Sua pele

clara, o cabelo loiro, o sorriso

iluminavam o ambiente.

Quando se deu conta, já estavam

num papo animado. Mas

Álvares levou um susto quando

ela disse o seu nome:

— Elisa!

Ele quase engasgou. Elisa

era a nome da mulher que, naquele

momento, ele mais amava.

Mas um amor que o assustava

e o fazia, de tempos em

tempos, procurá-la para, depois,

afastá-la. Isso já durava

alguns anos. Mas, nos últimos

meses, a aproximação havia sido

mais intensa e prolongada.

Álvares se pegou falando a ela

palavras como “compromisso”,

fazendo planos e, quando

se deu conta, já tinha uma lista

de pequenas cobranças.

Quando Elisa, a Primeira, o

olhava com surpresa, Álvares

ficava ainda mais assustado

com o que sentia. Ele temia entrar

em uma grande roubada.

O problema, ele tinha certeza,

era a própria vida que levavam.

Ela era casada. Ele, não.

Ele rejeitava a ideia de ser o

motivo da mudança de vida de

alguém. Elisa parecia não se

preocupar com o que ele sentia.

E foi no meio desse monte

de dúvidas que apareceu a Outra

Elisa. Disponível e também

apaixonante. Álvares, então, se

sentiu seguro para, novamente,

reiniciar o afastamento da

Primeira. Quis fazer com que

ela rompesse com ele e contou

que estava namorando outra

mulher com o seu nome. Mas

ela fez de conta que não ligou.

E ainda, de supetão, revelou

que tinha pedido a separação.

Álvares entrou em pânico.

Por mais que Elisa dissesse que

era uma decisão que não o envolvia,


ele não acreditava. E,

dali para frente, só fez se afastar

dela e se aproximar da Outra.

O trabalho ajudava a não

pensar, a piorar o seu humor e

a destilar o seu sarcasmo habitual

e saudável, que sempre o

fez sobreviver. E a companhia

amorosa da Outra durante as

noites e aos fins de semana aliviava

suas angústias. Até que,

inevitavelmente, enjoou dela.

E voltou à solidão.

E quando a Primeira percebeu

o que acontecia, tentou falar,

forçar uma reaproximação,

mas ele preferiu não reagir.

Era sua maneira de se autoproteger.

“Ficarei quieto e ela

vai perceber. Vai esquecer”,

pensava. Só tinha dúvidas se

era realmente o seu desejo: que

ela o esquecesse.

Meses se passaram. Álvares

percebeu que a Primeira se calou,

se afastou, mas isso não

lhe trouxe o esperado alívio.

Antes, o intrigou. É que, no

fundo, intuía que ela não deixaria

a história deles de lado.

Mas ele ainda temia o amor

que sentia. Se tinha vontade de

procurá-la, sufocava.Mas era

bom lembrar de suas madrugadas

de conversas, risadas e

amor. Por isso, foi com um certo

susto misturado a uma dose

de contentamento, que ouviu

a voz rouca de Elisa Primeira

ao telefone, numa noite solitária

de sábado. Ele não sabia o

que dizer. Se sentia desarmado,

mas feliz:

— Você vem aqui ainda hoje?

— perguntou, sem pensar

muito no que dizia.

— Vou — ela respondeu.

E ele suspirou eufórico e só

conseguiu pensar:

— Que bom, que bom!

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