E lá ia Álvares de novo. No
bar, andando em meio às mesas,
conversando com todos.
De repente, viu alguém na
multidão. E sentiu de novo
aquela sensação maravilhosa
do flertar e conquistar.
Ela parecia interessante.
Alegre, falante, sexy. Sua pele
clara, o cabelo loiro, o sorriso
iluminavam o ambiente.
Quando se deu conta, já estavam
num papo animado. Mas
Álvares levou um susto quando
ela disse o seu nome:
— Elisa!
Ele quase engasgou. Elisa
era a nome da mulher que, naquele
momento, ele mais amava.
Mas um amor que o assustava
e o fazia, de tempos em
tempos, procurá-la para, depois,
afastá-la. Isso já durava
alguns anos. Mas, nos últimos
meses, a aproximação havia sido
mais intensa e prolongada.
Álvares se pegou falando a ela
palavras como “compromisso”,
fazendo planos e, quando
se deu conta, já tinha uma lista
de pequenas cobranças.
Quando Elisa, a Primeira, o
olhava com surpresa, Álvares
ficava ainda mais assustado
com o que sentia. Ele temia entrar
em uma grande roubada.
O problema, ele tinha certeza,
era a própria vida que levavam.
Ela era casada. Ele, não.
Ele rejeitava a ideia de ser o
motivo da mudança de vida de
alguém. Elisa parecia não se
preocupar com o que ele sentia.
E foi no meio desse monte
de dúvidas que apareceu a Outra
Elisa. Disponível e também
apaixonante. Álvares, então, se
sentiu seguro para, novamente,
reiniciar o afastamento da
Primeira. Quis fazer com que
ela rompesse com ele e contou
que estava namorando outra
mulher com o seu nome. Mas
ela fez de conta que não ligou.
E ainda, de supetão, revelou
que tinha pedido a separação.
Álvares entrou em pânico.
Por mais que Elisa dissesse que
era uma decisão que não o envolvia,
ele não acreditava. E,
dali para frente, só fez se afastar
dela e se aproximar da Outra.
O trabalho ajudava a não
pensar, a piorar o seu humor e
a destilar o seu sarcasmo habitual
e saudável, que sempre o
fez sobreviver. E a companhia
amorosa da Outra durante as
noites e aos fins de semana aliviava
suas angústias. Até que,
inevitavelmente, enjoou dela.
E voltou à solidão.
E quando a Primeira percebeu
o que acontecia, tentou falar,
forçar uma reaproximação,
mas ele preferiu não reagir.
Era sua maneira de se autoproteger.
“Ficarei quieto e ela
vai perceber. Vai esquecer”,
pensava. Só tinha dúvidas se
era realmente o seu desejo: que
ela o esquecesse.
Meses se passaram. Álvares
percebeu que a Primeira se calou,
se afastou, mas isso não
lhe trouxe o esperado alívio.
Antes, o intrigou. É que, no
fundo, intuía que ela não deixaria
a história deles de lado.
Mas ele ainda temia o amor
que sentia. Se tinha vontade de
procurá-la, sufocava.Mas era
bom lembrar de suas madrugadas
de conversas, risadas e
amor. Por isso, foi com um certo
susto misturado a uma dose
de contentamento, que ouviu
a voz rouca de Elisa Primeira
ao telefone, numa noite solitária
de sábado. Ele não sabia o
que dizer. Se sentia desarmado,
mas feliz:
— Você vem aqui ainda hoje?
— perguntou, sem pensar
muito no que dizia.
— Vou — ela respondeu.
E ele suspirou eufórico e só
conseguiu pensar:
— Que bom, que bom!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário