quinta-feira, 10 de março de 2011

18/10/2009 uma espera eterna

18/10/2009 uma espera eterna Há 20 anos Virgínia espera por Agenor. Ela foi ao seu enterro, viu o seu corpo no caixão, guardou o seu atestado de óbito, mas, mesmo assim, ainda espera o dia em que ele virá buscá-la. — Depois do acidente, seu corpo foi reconhecido por um irmão. Mas eu o achei muito diferente. Não era ele. Não podia ser ele!! — ela diz. Virgínia e Agenor eram amantes. Eles se apaixonaram, mas ela era casada e tinha três filhos. Caminhoneiro, Agenor tinha medo de assumir um compromisso tão grande. Mas, um dia, Virgínia engravidou de Agenor. E nasceu uma linda menina. O motorista se encantou com o fato de ser pai. E decidiu: tinham que viver juntos, os três. — E os meus filhos mais velhos? — Virgínia quis saber. — Com quem eu vou deixar? — Você não gosta do seu marido. Se separe e nós dois vamos criar os meninos — prometeu. Ele a transformou na mulher mais feliz do mundo. O casal começou a construir uma casa para os seis morarem. Cada frete que recebia ia para a obra.Virgínia, que se afastava cada vez mais do marido, pediu a separação. O marido, um homem 15 anos mais velho que ela, era agressivo e ranzinza. Eles viviam juntos havia 12 anos. Dez dias antes de uma viagem longa, enquanto visitavam a construção, Agenor disse a Virgínia: — Olha, amor, você vai receber em breve uma notícia muito triste. Mas não se preocupe. Não acredite no que você vai ouvir. Saiba que eu vou vir te buscar, de todo jeito. A mulher estranhou a conversa. Mas não deu muita importância e, logo, esqueceu. Agenor saiu de Maceió e viajou para São Paulo com um ajudante novo. A viagem duraria uma semana. Cinco dias depois, os pais dele receberam um telefonema. O caminhão de Agenor, disse a pessoa do outro lado da linha, tinha capotado na Via Dutra, perto de Aparecida, e caído em um barranco. Foi durante a madrugada. Não teve testemunhas. Só pela manhã que outros motoristas perceberam, olhando da estrada. Quando foram ver a cabine, encontraram dois corpos. Um deles tinha nos bolsos os documentos de Agenor. O outro não tinha identidade alguma. Os dois foram levados para o IML. Os parentes tinham que ir lá reconhecer os corpos. Virgínia, então, lembrou da conversa na casa em construção. Não acreditou que era Agenor que estava no caminhão. Quando o corpo chegou, não o reconheceu. O do outro rapaz nunca foi identificado. E é por isso que ela, até hoje, o espera. Nunca mais foi saudável. E nunca mais foi feliz.

Nenhum comentário: