UM DESEJO
INFELIZ
O casamento, enfim, aconteceu.
Não foi pomposo como
Carolina tinha sonhado, com
vestido branco bordado, três
damas de honra, trombetas
anunciando a sua entrada na
igreja cheia de flores e gente.
Também não teve festa, só um
bolinho e uma champanhe para
os pais e os padrinhos. Tudo
muito sem graça. Carolina estava
feliz, mas ainda não tinha
se livrado do desconcerto.
Foi o casamento com o homem
que queria — e que amava
— e com o qual, sabia, seria
feliz. Namoraram oito anos,
eram sócios e há três compraram
um apartamento em
construção já pensando em se
casar. Eram três quartos, estava
todo mobiliado há um ano e
meio, sem ninguém vivendo
lá. E Evandro era louco por ela.
Foi capaz de perdoá-la. E ela tinha
sido “baixa”, como dizia a
sua sogra. Mas, no fundo, não
sentia culpa. O que sabia é que
tinha como missão de vida reconquistar
a sogra, Maria
Odete, que a desprezava.
Também, pudera! O casamento
dos dois devia ter ocorrido
há um ano e meio. Convites
distribuídos, festa contratada,
igreja reservada. Maria
Odete e Carolina tinham organizado
o casamento juntas, e
ele seria grandioso. Sogra e nora
se davam muito bem, tinhamos
mesmos gostos. Mais
do que a mãe de Carolina, foi
Maria Odete quem ajudou a
moça a encontrar o vestido
perfeito. Nele, a moça parecia
uma princesa, para orgulho de
quem? Da sogra.
Mas há coisas na vida que
são mesmos inexplicáveis.
Principalmente as fantasias secretas.
Há quem nunca se arrisque
para realizar um desejo.
Mas há quem faz o que tiver de
ser feito para se sentir realizado.
E foi o que Carolina fez.
A moça tinha a fantasia da
traição. Achava excitante o jogo
da sedução e se sentia mais
mulher assim. Brincava de seduzir
com frequência, mas
nunca tinha ido às vias de fato.
Foi por isso que decidiu, há
três dias do seu casamento, levar
um “amigo” para o seu
apartamento novinho. Queria
ir até o fim, para estar mais excitada
na lua de mel. Omoço
era um colega da faculdade.
Naquela tarde, se encontraram por
acaso no shopping e
começarama fantasiar sobre o
risco da traição. Foi como um
impulso. Contou que se casaria
em alguns dias, ele respondeu
“ai, que pena, perdi então
todas as minhas chances”, e isso
colocou ainda mais fogo na
situação. E, então, o convidou
para conhecer seu futuro lar.
Carolina só não contou
com o inesperado: Maria Odete
tinha as chaves do lugar. A
sogra convidou uma prima
para conhecer o apartamento
do filho.Quando as duas chegaram,
estranharam as roupas
espalhadas pela sala, entre os
presentes ainda no chão. E o
choque veio no minuto seguinte,
quando Carolina, pelada,
surgiu correndo com um
estranho seminu atrás dela.
O casamento acabou. O
apartamento foi fechado, os
presentes devolvidos. Mas Carolina
se recusou a terminar a
sociedade. Tentava explicar ao
noivo o que era inexplicável:
que aquilo não era nada, que
era só desejo e sexo, que o amava.
Viveram mais de um ano
no inferno, ambos chorando
pelos cantos. Mas realmente se
amavam. E acabaram decidindo
tentar de novo. Por isso casaram
só no cartório, sem nenhuma
festa e, do fundo dos
seus corações, juraram ser fieis
até que a morte os separe.
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