segunda-feira, 28 de março de 2011

07/03/2010 Um desejo infeliz

UM DESEJO


INFELIZ

O casamento, enfim, aconteceu.

Não foi pomposo como

Carolina tinha sonhado, com

vestido branco bordado, três

damas de honra, trombetas

anunciando a sua entrada na

igreja cheia de flores e gente.

Também não teve festa, só um

bolinho e uma champanhe para

os pais e os padrinhos. Tudo

muito sem graça. Carolina estava

feliz, mas ainda não tinha

se livrado do desconcerto.

Foi o casamento com o homem

que queria — e que amava

— e com o qual, sabia, seria

feliz. Namoraram oito anos,

eram sócios e há três compraram

um apartamento em

construção já pensando em se

casar. Eram três quartos, estava

todo mobiliado há um ano e

meio, sem ninguém vivendo

lá. E Evandro era louco por ela.

Foi capaz de perdoá-la. E ela tinha

sido “baixa”, como dizia a

sua sogra. Mas, no fundo, não

sentia culpa. O que sabia é que

tinha como missão de vida reconquistar

a sogra, Maria

Odete, que a desprezava.

Também, pudera! O casamento

dos dois devia ter ocorrido

há um ano e meio. Convites

distribuídos, festa contratada,

igreja reservada. Maria

Odete e Carolina tinham organizado

o casamento juntas, e

ele seria grandioso. Sogra e nora

se davam muito bem, tinhamos

mesmos gostos. Mais

do que a mãe de Carolina, foi

Maria Odete quem ajudou a

moça a encontrar o vestido

perfeito. Nele, a moça parecia

uma princesa, para orgulho de

quem? Da sogra.

Mas há coisas na vida que

são mesmos inexplicáveis.

Principalmente as fantasias secretas.

Há quem nunca se arrisque

para realizar um desejo.

Mas há quem faz o que tiver de

ser feito para se sentir realizado.

E foi o que Carolina fez.

A moça tinha a fantasia da

traição. Achava excitante o jogo

da sedução e se sentia mais

mulher assim. Brincava de seduzir

com frequência, mas

nunca tinha ido às vias de fato.

Foi por isso que decidiu, há

três dias do seu casamento, levar

um “amigo” para o seu

apartamento novinho. Queria

ir até o fim, para estar mais excitada

na lua de mel. Omoço

era um colega da faculdade.

Naquela tarde, se encontraram por

acaso no shopping e

começarama fantasiar sobre o

risco da traição. Foi como um

impulso. Contou que se casaria

em alguns dias, ele respondeu

“ai, que pena, perdi então

todas as minhas chances”, e isso

colocou ainda mais fogo na

situação. E, então, o convidou

para conhecer seu futuro lar.

Carolina só não contou

com o inesperado: Maria Odete

tinha as chaves do lugar. A

sogra convidou uma prima

para conhecer o apartamento

do filho.Quando as duas chegaram,

estranharam as roupas

espalhadas pela sala, entre os

presentes ainda no chão. E o

choque veio no minuto seguinte,

quando Carolina, pelada,

surgiu correndo com um

estranho seminu atrás dela.

O casamento acabou. O

apartamento foi fechado, os

presentes devolvidos. Mas Carolina

se recusou a terminar a

sociedade. Tentava explicar ao

noivo o que era inexplicável:

que aquilo não era nada, que

era só desejo e sexo, que o amava.

Viveram mais de um ano

no inferno, ambos chorando

pelos cantos. Mas realmente se

amavam. E acabaram decidindo

tentar de novo. Por isso casaram

só no cartório, sem nenhuma

festa e, do fundo dos

seus corações, juraram ser fieis

até que a morte os separe.

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