quinta-feira, 10 de março de 2011

20/09/2009 morando sozinha

20/09/2009 morando sozinha Desde que chegou a São Paulo para estudar, tudo o que Marcia fez foi dividir seus espaços. Primeiro, morou numa pensão com mais 19 moças. — Uma comia demais, sem pedir licença para quem comprou. Outra era anoréxica. Tinha uma que roubava as minhas roupas. Mas a pior de todas era uma obreira evangélica. Eu tinha 17, estava longe de casa pela primeira vez, e não tinha a menor paciência para quem queria me converter. A segunda “casa” de Marcia em São Paulo também foi coletiva, uma república, onde dividia o quarto com só uma amiga. Mas as despesas eram altas e precisou correr atrás de outra alternativa. Uma colega de classe morava na casa dos pais, e ofereceu um quarto vago para alugar. — O lugar era bacana, gostava deles, mas quem eu mais amava lá era o cachorro. Quando se formou, Marcia resolveu fazer um curso nos Estados Unidos. Trabalhava de garçonete e dividia um apartamento com imigrantes ilegais. Voltou dois anos depois e logo conseguiu um bom trabalho. E então, enfim, sete anos após ter deixado Itatinga, pôde morar sozinha. — Estava, enfim, livre para escolher a cortina, a cor da parede, a geladeira, o tipo de papel higiênico, a marca do sabão em pó, e, principalmente, não ser obrigada a ver o programa da Luciana Gimenez! Foi a minha revolução pessoal! Mas o sossego durou pouco. Três meses após sua mudança, o seu celular tocou. E, do outro lado da linha, era a mãe dela, feliz porque o outro filho tinha passado na faculdade, e em São Paulo. — Ele vai morar aí com você. — Ah, mãe, não dá. Aqui é pequeno... — Como você vai negar isso para nós. Com o peso na consciência, Marcia cedeu. Mas quando o irmão chegou, ela foi bem clara. — Você é bem grandinho. Pode ficar aqui três meses, no máximo. Eu me virei. Você também vai arrumar outro lugar para ficar. Aos poucos, porém, Marcia foi se acostumando com o irmão em casa. E entre brigas e reconciliações, ameaças de expulsões sumárias por causa da falta de organização do rapaz, Silvano passou quase dois anos com ela. Só há uma semana ele se mudou para uma pensão na Bela Vista. Pergunto a Marcia se está feliz com a liberdade reconquistada. —- Sim, mas dá um aperto no coração, uma vontade de falar: “fique aqui pra sempre”. A vida é difícil lá fora, meu irmãozinho... Mas aí, de repente, lembro: irmãozinho, não. Eu sou a mais nova. E, se sobrevivi, ele também vai conseguir.

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