quinta-feira, 10 de março de 2011

11/10/2009 Muito feliz 3 vezes

11/10/2009 Muito feliz 3 vezes Ela diz que amou três homens intensamente. Se casou com os três. E foi feliz com os três. Hoje, é viúva dos três. E não cansa de repetir: — Os três eram maravilhosos. Conheci Isolda no fim da tarde de uma quinta-feira. Ela estava só, bebendo uma latinha de cerveja no balcão de uma padaria no Centro, daquelas padarias tradicionais da cidade. Sentei-me ao seu lado para tomar um pingado com pão com manteiga. E começamos a conversar. Primeiro, sobre o bom serviço prestado pela padaria. Depois, sobre os homens. E os amores. Confesso que a achei um tipo estranho, puxando conversa comigo, sem me conhecer. Isolda não é uma mulher jovem. Tem lá os seus 65, bem marcados no seu semblante. Vestia jeans, muitas bijuterias e maquiagem, e usava um lenço colorido na cabeça. Não sei se me contou sua vida real, ou os desejos que teve na vida. Mas, no seu relato, tinha uma grande qualidade: só falava da felicidade que teve e omitia o que teria sido ruim ou triste. Contou-me que frequentava a mesma padaria há anos, desde sua abertura pelo avô do atual dono. Ia lá com o primeiro marido, Arthur, um arquiteto importante na época, também metido em política, quase 30 anos mais velho que ela. — Quando nos casamos foi um escândalo. Uma menina se casando com um senhor! Eu tinha 14, e ele, 43. Mas nos apaixonamos. Ele era muito elegante. Me sentia uma princesa ao seu lado! Com ele, Isolda disse que morou em várias cidades do Brasil e foi pela primeira vez à Europa. Ao tomar mais um gole de cerveja, Isolda lembrou que aprendeu a beber com Arthur. — O acompanhava em reuniões políticas. Mas eu não bebia com eles. Só em casa, com o Arthur. O segundo marido — emendou ela, sem falar como o primeiro morreu — era um engenheiro alemão, Hans, que adorava o Brasil: — Mas tivemos que morar um tempo na França. Paris, para ser mais exata. A cidade é linda. Isolda não me deixava perguntar. Eu, curiosa, queria mais detalhes sobre os desfechos dos seus casos. Mas ela só queria falar da sua vida mágica. — O terceiro era um artista plástico. Conheci vários artistas. Só frequentava exposições e festas. Minha casa parecia uma galeria de artes. Quando eu me levantei, pois precisava ir embora, ela segurou o meu braço, com um sorriso de verdadeira satisfação. Então, disse-me, sorrindo: — Sabe, enterrei três maridos. Dizem que sou perigosa. Mas fui muito, muito feliz com os três. — Sim, eu acredito!

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