quinta-feira, 10 de março de 2011

01/11/2009 o segredo da família

01/11/2009 o segredo da família Catarina ficava angustiada toda vez que a avó ia fazer uma visita à sua família. Com 7 anos, ela não conseguia disfarçar a preocupação, que logo virava irritação, com a presença da avó na casa. Não que não gostasse da avó. Pelo contrário. A velha matrona era sempre doce com ela e seu irmão, lhes enchia de mimos, carinhos e presentes. O que literalmente tirava o sono da criança era imaginar que a mãe de sua mãe poderia descobrir o grande segredo da casa: — Minha mãe tinha um pé de maconha plantado no vaso da varanda. E a minha avó era super careta. Na minha cabecinha, imaginava que, se minha avó descobrisse, iria denunciar a minha mãe, que seria presa! Era por isso que Catarina ficava em guarda toda vez que a avó estava na sua casa. Fazia de tudo para a velha não ir até a varanda. E, quando não tinha jeito, se colocava entre ela e o vaso suspeito. — Hoje acho que ela até sabia, mas não reconhecia o “problema”. Nunca ia admitir que a filha era maconheira. A pequena demorou muitos anos para superar o trauma de conviver com pais que tinham uma vida alternativa, principalmente a mãe, que não passava um dia sequer sem puxar um fuminho. Na sua casa, a seda era item de primeira necessidade e “enrolar um”, o hábito de todas as noites. — Era para relaxar, a minha mãe dizia. Eu não entendia. Pior, para Catarina, foi o jeito que descobriu o hábito materno. Numa noite, a mãe, de cara cheia, com uma ponta entre os dedos, resolveu “abrir o coração” para a menina, que havia acabado de entrar na primeira série primária. — Sabe o que é isto? — perguntou. — É maconha — revelou a mãe, tranquilamente. A garotinha entrou em desespero. — Descobri que minha mãe era “maconheira”, com todo o peso que esse título tem — lembra. Foi a partir daí que começou a temer a prisão da mãe. Passou a entender que tinha um grande segredo de casa para guardar do resto do mundo, tão austero e correto quanto a sua avó. Pelo menos era isso o que ela imaginava: que o mundo era austero e correto. Só com o correr dos anos foi que descobriu que toda casa tinha o seu segredo. — Mas foi difícil crescer assim, tendo que proteger a minha mãe da polícia o tempo todo. Pelo menos era isso o que eu imaginava, que fazia quando escondia de todo mundo o que realmente acontecia em minha casa. Ou quando me colocava entre o pé de maconha da varanda e a minha avó. Hoje crescida, Catarina dá boas risadas da sua história. Ela lembra que só começou a aceitar que tinha um problema quando decidiu contar para as amigas do colégio o que acontecia na sua casa. — Meninas, é o seguinte: tenho que contar que minha mãe é maconheira. Elas falaram: “tudo bem”! Foi um super alívio contar o segredo. Mas, depois, ainda precisou de muitas horas de terapia para superar o trauma. E, até hoje, ainda tem horror a qualquer tipo de droga ou bebida alcoólica. — Nem a champanhe do Réveillon dá pra beber. — Mas, e sua mãe? — Bem, ela mantém o “hábito”. Mas já me pediu perdão. Pelo menos fez o “mea culpa”.

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