quinta-feira, 10 de março de 2011

23/08/2009 sem trocar a calcinha

23/08/2009 sem trocar a calcinha A pele morena e o cabelo encaracolado daquela moça desagradaram de cara a velha matrona italiana. Marlene namorava Pietro, o filho mais novo de Inês, já havia dois anos. Os dois até moravam juntos na república da cidade do interior onde estudavam. Mas Inês só soube do romance um dia antes de o filho aparecer com Marlene em casa. — Oi, mãe. Vou levar minha mina pra senhora e o povo daí conhecer. A gente chega amanhã. Espera com o rango pronto. Pode ser aquela macarronada? Foi assim que Pietro, estudante de geografia, anunciou que levaria Marlene até sua casa, num fim de semana. O rapaz, já com 21 anos, nunca havia apresentado uma namorada à família. Portanto, Inês imaginou que aquele relacionamento era sério. E caprichou no tempero. O casal chegou no sábado, perto da hora do almoço. A moça, vestida com uma bata de algodão amarela e calças jeans, estava com uma mochila peruana nas costas e uma maleta de couro em uma das mãos. Inês não gostou nada daquela aparência desleixada. Pior: ela demorou para entender o porquê de tanta bagagem. Estava preparada para receber Marlene para um almoço e tomou um susto quando o filho, depois dos cumprimentos, levou a namorada pela mão até o quarto dele. Inês automaticamente foi atrás: — É aqui que a gente vai dormir esta semana. Mãe, cadê aquela caminha de dobrar? Inês era conservadora. Nunca imaginou que teria que deixar a namorada de um filho dormir em casa. Ela puxou o filho de lado e tentou dizer que uma semana de hospedagem para uma estranha não estava em seus planos. — Mãe, não esquenta. A italiana se arrependeu de ter caprichado tanto no almoço. E, até por birra, começou a observar cada movimento da moça com olhos de analista. Mais do que saber como ela se comportava, Inês queria encontrar os defeitos da nora. A que hora dormia e acordava, quando entrava no banheiro e quanto tempo ficava no chuveiro eram motivos de comentários com os demais filhos, sempre aos cochichos. Também reparava o que e quanto ela comia durante as refeições. Com ironia, a apelidou de “Brasileirinha”. Marlene, por sua vez, não parecia constrangida e nem se esforçava para ser simpática. Falava pouco. Foi com um certo custo que a matrona conseguiu saber um pouco mais sobre a sua vida. A família era de Peruíbe. Ela era a filha do meio e tinha um casal de irmãos. O pai trabalhava como garçom e a mãe costurava para fora. Com 23 anos, era professora de escola pública e estava no último ano de psicologia. Ao final da semana, Inês tinha um perfil impreciso e preconceituoso da nora: — Ela é muito porca — decretou. — Como pode uma moça ficar aqui em casa uma semana sem pendurar uma só calcinha no varal? Ela não trocava, é lógico! — Mãe, ela tinha um montão de calcinhas limpas na mala! Só isso! — Pietro respondeu, numa tentativa de defender a namorada. Mesmo assim, não sei se foi por causa dos “argumentos” da mãe, mas o fato é que, naquele mesmo mês, acabou o namoro com Marlene.

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