quinta-feira, 10 de março de 2011

08/11/2009 sem tomar anestesia

08/11/2009 sem tomar anestesia A operação seria em uma semana. O médico lhe avisou que a cirurgia era simples, mas ela precisava de internação, e um acompanhante deveria ficar no hospital pelo menos até o final do procedimento. — Vamos te dar uma anestesia geral. Então, é bom ter alguém aqui durante a operação. Mas, depois que sair, a recuperação é tranquila e rápida. Você vai para casa no mesmo dia — explicou o médico. Jandira tratou logo de avisar o marido. Antonio teria que faltar no trabalho. Deveriam estar no hospital às seis da manhã para a internação. O procedimento cirúrgico seria ainda cedo e duraria, no máximo, 30 minutos. — Tudo bem, eu vou com você — Antonio respondeu, sem olhar para dela, perguntar o porquê da cirurgia, seus detalhes, riscos ou possíveis complicações. Jandira ficou magoada com o jeito despreocupado dele, mas não se surpreendeu. Acontece que Antonio era um bocado desligado. A mulher tinha dúvidas se era da natureza do marido ser distraído ou se ele não prestava atenção mesmo ao que ela falava. Tendia a achar que ele não escutava nada do que dizia. Mas ia relevando, ora achando que era impressão sua, ora torcendo para que ele mudasse. No dia da cirurgia, ela estranhou quando o viu pegar a maleta de trabalho para levá-la ao hospital. Ele chegou lá tenso com o horário e Jandira ficou até feliz — acreditou que estava preocupado com ela. Mas, assim que se sentou para esperar a recepcionista chamá-la para fazer a ficha, ele disse: — Olha, eu já vou embora. — Como assim, vai embora? — ela arregalou os olhos. — Eu tenho que trabalhar. — Mas eu te disse que precisava de você aqui durante a operação. Que depois que saísse da sala de cirurgia, eu podia ficar sozinha. Mas que o médico tinha pedido para alguém estar por aqui até lá. E você disse que tudo bem! Você não lembra? — retrucou, com os olhos cheios de lágrimas. — Eu entendi que era só para te trazer aqui. E não posso faltar no trabalho hoje! A mulher explodiu no saguão do hospital: — Você falta quando tem uma unha encravada, mas para ficar aqui comigo, quando eu vou fazer uma cirurgia, tomar anestesia geral, não pode? — Desculpe, eu não entendi assim... — Você simplesmente não escutou o que eu disse! De novo. Fingiu que escutou. Pode ir embora. Eu me viro! Todos nos saguão olhavam para o casal. E Antonio saiu meio sem graça. Ela ficou chorando. Mas respirou fundo, fez a ficha, se internou e encarou a operação. Deu tudo certo. Era um procedimento simples no útero e, no fim da tarde, ela teve alta. Mas o coração doía demais. Aquele tipo de dor que não há anestesia que resolva. Pediu um táxi e foi para casa, só pensando em fazer uma coisa: pegar suas malas e ir embora. E Jandira já estava longe quando Antonio chegou em casa, no meio da noite, completamente esquecido do que havia ocorrido pela manhã. Como a mulher não estava, ligou no seu celular. — Oi... Onde você está? — Você já abriu o nosso guarda-roupas? Então, olha lá, que deixei ele vazio. Não preciso te dizer mais nada. Ele agora é todinho seu.

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