COM BEIJO
DE LÍNGUA
Ela é casada há 23 anos e namora
há quatro. É, Vera tem
um amante. E ele também é
casado. Eles são felizes assim.
Muito felizes, ela me garante.
Vera não gosta da palavra
amante. Então, chama o seu
amor de namorado. Ele também
diz que ela é a namorada
dele. Os dois se conheceram
em uma sala de bate-papo na
internet e, por um bom tempo,
apenas conversaram. Um dia,
a curiosidade ganhou vez e eles
marcaram um encontro sem
compromissos.
— Só que, de repente, houve
uma química. No primeiro
encontro, a gente trocou alguns
beijos. Mas depois queríamos
mais. E ele é um homem
muito carinhoso, amoroso,
gentil e fiquei nas nuvens.
Daí para frente não paramos.
Com ele, eu me realizo como
mulher e como amiga. E sei
que sou muito especial na vida
dele também — diz.
Aos 42 anos, o romantismo
é novidade para a apaixonada
Vera. Na sua adolescência, ser
romântico era “careta”. Então,
em casa, o marido é seco, não
há elogios ou atenções especiais.
Só há cobranças e uma
vida automática, cheia de deveres
a cumprir.
Com o namorado, por incrível
que pareça, há mais diálogo,
mais passeios de mãos
dadas, mais viagens sem compromisso,
mais suavidade no
convívio, enfim, mais leveza. É
o prazer de um ficar com o outro.
Um conseguiu dar ao outro
o que tem de melhor.
— Somos amantes sem cobranças.
Nos falamos todos os
dias e nos vemos ao menos
uma vez por semana. E, quando
dá, viajamos. Saímos de
manhã e voltamos à noite. E
sempre tem beijo de língua,
que é superbom — revela.
A situação da minha amiga
Vera é polêmica. É preciso coragem
para enfrentá-la. Mas
haverá quem diga que é imoral,
que Vera engana e trai o
marido. O fato é que não podemos
julgá-la. Ela e o namorado
vivem seus momentos
juntos num esforço tremendo
para não atrapalhar seus casamentos,
sua vida pública, sua
família, sua rotina.
Alguém vai logo perguntar:
e por que não terminam logo
com os respectivos casamentos?
Já que eles não são mais felizes,
por que não ficam juntos
de uma vez por todas?
— É que ele é muito bem
casado, assim como eu — Vera
responde, sem pestanejar.
Há muitas Veras por aí. Solange,
uma colega de trabalho,
vivia há 15 anos entre o marido
e o amante. Não cogitava mudar
de vida. Primeiro, porque
os filhos eram pequenos. Depois,
porque “algo” que nem
ela sabia explicar a impedia.
—É que, de verdade, não é
necessário. Está tudo bem deste
jeito. Não quero provocar
revoluções e traumas na vida
de ninguém — dizia.
Para essas mulheres, ficar
no casamento é o melhor que
podem fazer pela família, mesmo
sem amar ou desejar mais
o marido. É como no filme “As
Pontes deMadison”, onde a
personagem principal decide
não seguir o amante porque
entende que destruirá a vida de
sua família.Mas, no filme, a
dona-de-casa Francesca, vividaporMeryl
Streep, abremão
da própria felicidade. Não é o
caso das minhas amigas, que,
me garantem, conseguiram
conciliar as duas coisas.
— É que a gente temmais é
que ser feliz do jeito que quer,
né? Só isso vale a pena — defende
Vera.
Eu diria mais: temos que ser
felizes do jeito que a gente pode.
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