quinta-feira, 10 de março de 2011

26/04/2009 - Com beijo de língua

COM BEIJO


DE LÍNGUA

Ela é casada há 23 anos e namora

há quatro. É, Vera tem

um amante. E ele também é

casado. Eles são felizes assim.

Muito felizes, ela me garante.

Vera não gosta da palavra

amante. Então, chama o seu

amor de namorado. Ele também

diz que ela é a namorada

dele. Os dois se conheceram

em uma sala de bate-papo na

internet e, por um bom tempo,

apenas conversaram. Um dia,

a curiosidade ganhou vez e eles

marcaram um encontro sem

compromissos.

— Só que, de repente, houve

uma química. No primeiro

encontro, a gente trocou alguns

beijos. Mas depois queríamos

mais. E ele é um homem

muito carinhoso, amoroso,

gentil e fiquei nas nuvens.

Daí para frente não paramos.

Com ele, eu me realizo como

mulher e como amiga. E sei

que sou muito especial na vida

dele também — diz.

Aos 42 anos, o romantismo

é novidade para a apaixonada

Vera. Na sua adolescência, ser

romântico era “careta”. Então,

em casa, o marido é seco, não

há elogios ou atenções especiais.

Só há cobranças e uma

vida automática, cheia de deveres

a cumprir.

Com o namorado, por incrível

que pareça, há mais diálogo,

mais passeios de mãos

dadas, mais viagens sem compromisso,

mais suavidade no

convívio, enfim, mais leveza. É

o prazer de um ficar com o outro.

Um conseguiu dar ao outro

o que tem de melhor.

— Somos amantes sem cobranças.

Nos falamos todos os

dias e nos vemos ao menos

uma vez por semana. E, quando

dá, viajamos. Saímos de

manhã e voltamos à noite. E

sempre tem beijo de língua,

que é superbom — revela.

A situação da minha amiga

Vera é polêmica. É preciso coragem

para enfrentá-la. Mas

haverá quem diga que é imoral,

que Vera engana e trai o

marido. O fato é que não podemos

julgá-la. Ela e o namorado

vivem seus momentos

juntos num esforço tremendo

para não atrapalhar seus casamentos,

sua vida pública, sua

família, sua rotina.

Alguém vai logo perguntar:

e por que não terminam logo

com os respectivos casamentos?

Já que eles não são mais felizes,

por que não ficam juntos

de uma vez por todas?

— É que ele é muito bem

casado, assim como eu — Vera

responde, sem pestanejar.

Há muitas Veras por aí. Solange,

uma colega de trabalho,

vivia há 15 anos entre o marido

e o amante. Não cogitava mudar

de vida. Primeiro, porque

os filhos eram pequenos. Depois,

porque “algo” que nem

ela sabia explicar a impedia.

—É que, de verdade, não é

necessário. Está tudo bem deste

jeito. Não quero provocar

revoluções e traumas na vida

de ninguém — dizia.

Para essas mulheres, ficar

no casamento é o melhor que

podem fazer pela família, mesmo

sem amar ou desejar mais

o marido. É como no filme “As

Pontes deMadison”, onde a

personagem principal decide

não seguir o amante porque

entende que destruirá a vida de

sua família.Mas, no filme, a

dona-de-casa Francesca, vividaporMeryl

Streep, abremão

da própria felicidade. Não é o

caso das minhas amigas, que,

me garantem, conseguiram

conciliar as duas coisas.

— É que a gente temmais é

que ser feliz do jeito que quer,

né? Só isso vale a pena — defende

Vera.

Eu diria mais: temos que ser

felizes do jeito que a gente pode.

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