quarta-feira, 1 de junho de 2011

28/05/2011 - A Última barriga

 Juracina já não aguentava mais. Aquela era sua quinta e última barriga. Sentia que seu corpo já não suportaria mais as mudanças impostas pela gestação. Só rezava para que a derradeira barriga trouxesse uma menina. Juracina amava seus quatro moleques, mas sonhava com uma princesinha, que se chamaria Cibele.
A bolsa estourou no final de uma tarde. Osvaldo, o mais velho, correu para chamar a parteira no sítio vizinho. A mulher mal teve tempo de chegar. A criança nasceu fácil. Juracina era boa parideira.
- É um garotão lindo! - anunciou a parteira.
A mãe não escondeu a decepção. Chorou, reclamou com Deus. Mas não ia rejeitá-lo. Porém, toda tristeza caiu por terra quando ela pegou o bebê para dar o peito pela primeira vez. Ele era o mais bonito dos cinco. E por ele Juracina sentiu um amor indescritível. Ela o chamou de Cicinho.
O garoto cresceu grudado na barra de sua saia. Não jogava bola, não se envolvia com os meninos das redondezas, não fazia travessuras como os outros. Em compensação, tudo o que a mãe fazia em casa ele sabia. Aprendia só de olhar. Até panos de prato ele bordava. Quando chegou a adolescência, começou a pentear a mãe e, depois, as primas. Na escola, aprendeu a maquiar as meninas.
Os mexericos e insinuações começaram. Os irmãos chamaram a atenção da mãe, já viúva.
- O Cicinho parece uma mulherzinha, mãe! Ele precisa de uma sova pra virar macho - ameaçou Roberto, o do meio e o mais violento dos cinco.
- Só por cima de meu cadáver - disse a mãe.
Quando Juracina caiu doente, foi Cicinho quem cuidou dela. Ele a mantinha limpa, medicada e cheirosa. Nunca a deixava só. Vencida pela doença, a mulher decidiu se abrir com os filhos. Sentia culpa, mas acreditava que o caçula precisava de proteção.
- Filhos, Cicinho é diferente, especial, eu sei. Acho que é porque eu queria muito uma menina... Então, quando eu morrer, Cicinho, não fique por aqui. Segue seu coração e vai ganhar o mundo.
Cicinho deixou o lugarejo um dia depois de Juracina morrer.  Só manda notícias para a família por cartão postal. Em 15 anos, conheceu mais de 20 países. No último cartão, contou que fez a operação de mudança de sexo. E, feliz, assinou: Cibele!

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