quinta-feira, 30 de junho de 2011

01/08/2010 Um justa partilha

UMA JUSTA PARTILHA Foi muito rápido que a paixão acabou. Depois de seis meses sem um poder ficar nem um dia longe do outro, eles, agora, pensavam em se separar. Estavam brigando e, por isso, nem na cama as coisas rolavam como antes. O maior entrave, porém, era a vida prática. Como montariam duas casas? De onde tirariam dinheiro para mobiliar de novo um outro apartamento?


Eles, de fato, tinham se precipitado. Jorge vivia no interior quando decidiu morar com Marcela, em outro estado. E levou o filho, que ele criava. Ela também tinha um filho, que recebia pensão. O sonho era construir a família que nunca tinham conseguido em relacionamentos anteriores.

Para mudar, Jorge largou seu trabalho e entregou sua casa com praticamente tudo o que tinha dentro. Além disso, como ia viver no apartamento dela, tinha gastado suas economias para comprar, principalmente, novos eletrodomésticos.

– Eu só tinha um tanquinho e sempre quis uma máquina de lavar. Então, decidimos dar o tanquinho e ele comprou uma lavadora moderna, daquelas que lavam e secam! – conta Marcela.

A chegada da máquina no apartamento de Marcela foi quase uma festa. O casal, ainda no auge da paixão, fez questão de comemorar com champanhe importada, degustada no jogo de taças também novo, um dos poucos presentes que tinham recebido logo que anunciaram para amigos e parentes que iam morar juntos.

Então, quando perceberam que até se gostavam, mas, sob o mesmo teto, com duas crianças, não se davam tão bem, foram os problemas práticos que mais os incomodaram. Como dividiriam as “tralhas”? Afinal, ele já tinha um trabalho novo e até conseguiria alugar e financiar parte de uma nova mobília, mas não dava para comprar tudo. E ela não tinha emprego fixo, vivia de bicos.

A situação, porém, já estava insustentável, e Jorge resolveu sair, com o principal que tinha levado – a máquina de lavar roupas. Ela ficou com o resto e, jura, sem rancores.

– As crianças brigavam muito. Não tinha jeito.

Mas, o problema das roupas para lavar poderia parecer brincadeira, mas para ela era muito sério. Não lavaria nada na mão. Então, entraram em um acordo que eu, particularmente, nunca vi.

– Eu lavo a roupa dela e do filho toda a semana. Quando ela não leva a sacola de roupas sujas no meu apartamento, eu passo no dela e pego. Mas, só tem um detalhe: o sabão em pó é ela quem compra – conta Jorge.

– E o resto das coisas, como ficaram? – eu quero saber.

– Ele queria levar o jogo de taças. Mas esse eu não dou. É meu. Então, quando a gente quer matar saudades, eu levo as taças. E, depois, trago de volta. É lógico...

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