quinta-feira, 30 de junho de 2011

30/05/2010 Eterna juventude

05/30/2010 eterna juventude Dona Elza quer usar aparelho auditivo. Já fez todos os exames e escolheu um modelo transparente. Aliás, dona Elza foi conquistada pelo aparelho “invisível”, como lhe explicou o seu médico. Dona Elza não escuta direito há anos, lhe incomoda só ver as cenas das suas novelas prediletas, sem escutar os diálogos. Mas nada seria pior do que reconhecer publicamente a sua surdez. Então, quando descobriu que poderia usar um aparelho praticamente imperceptível, rendeu-se. E feliz. Dona Elza sempre se supera. E surpreende quem a cerca. Com 91 anos, ela já foi “enterrada” várias vezes. Quando seu marido ainda era vivo, todos tinham pena dela. Alceu era tenente reformado da PM e, aparentemente, nada carinhoso. Digo “aparentemente” porque dona Elza sempre dava um risinho maroto quando alguma filha lhe dizia, indignada: “Mãe, como você aguenta ele???”. É que o “tenente Alceu” era machista, teimoso e autoritário. Tudo o que pedia era gritando, com grosseria. Mas eles foram casados por 50 anos e Elza cuidou dele com um carinho comovente até a sua morte. Alceu teve um problema pulmonar e, por anos, dependeu dela para praticamente tudo. Quando o marido partiu, a família acreditava que o sentido da vida da senhora tinha acabado. Foi quando veio a primeira surpresa. Durante o velório, ela não parecia desesperada e, após o enterro, anunciou às filhas que faria uma viagem. Nada de ficar em casa curtindo o luto. E seria só a primeira delas. A senhorinha, já com seus 70 anos, passou a fazer parte de grupos de terceira idade e ia em praticamente todas as excursões com as amigas. Até nas bebidas ela se aventurava. Um dia, a família recebeu um telefonema avisando que a mãe estava internada. Dona Elza havia sentido uma forte e crescente dor, chamou um táxi e foi sozinha ao hospital. Acabou internada. Exames a viraram de “ponta cabeça” e o prognóstico médico foi o pior possível: ela nunca mais voltaria a andar. As filhas, arrasadas, decidiram não revelar a ela a gravidade do problema. Compraram uma cadeira de rodas, adaptaram a casa, colocaram a cama hospitalar na sala, crentes de que aquela seria a realidade da mãe dali em diante. Mas, nova surpresa: em dois meses, a velhinha já estava em pé. E foi fazer ioga. Nas festas, dava cambalhotas no meio da sala, se exibindo para quem se impressionava com sua recuperação. Depois disso, ela ainda cuidou e enterrou uma filha, que morreu de câncer. Novamente, após a tristeza, veio uma recuperação surpreendente. Nada parece abatê-la. Já se aventurou em um cruzeiro só com as amigas da igreja, foi a um show do Roberto Carlos e sentou na primeira fila, com direito a champanhe, e agora planeja ir ver Cauby Peixoto. Hoje, a única coisa que ela diz é que não quer ficar velha. E acho nunca será.

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