quinta-feira, 30 de junho de 2011

13/06/2010 Surpresa no elevador

06/13/2010 surpresa no elevador A velha senhora chorou como há anos não chorava, quando descobriu que Tadeu estivera lá várias vezes, no mesmo prédio onde ela morava, e que em nenhuma delas tinha ido visitá-la. Por que ele a ignorava? Por que era tão indiferente e frio com ela? Tadeu era seu filho. O caçula. Por ele, Alzira seria capaz de tudo. Sempre o mimou mais do que aos outros. Mas ele era considerado esquisitão por todos. E parecia que a odiava. Desde a adolescência era assim — a rebeldia natural da idade e as brigas com os pais, naturais da fase, permaneceram depois que ele se transformou em um adulto. Com quase 40, Tadeu continuava a se comportar como um rapaz de 16 anos. E ela não entendia o porquê. Aquilo, porém, tinha sido demais. Por um acaso, descobriu que a namorada dele morava no mesmo prédio que ela há pelo menos seis meses e, neste período, ele não lhe disse nada. E também nunca foi vê-la. Só haviam conversado poucas vezes por telefone. E ele normalmente ligava para pedir dinheiro, que ela mandava depositar em sua conta. Como não tinha percebido antes? Tinha quase 70, saía pouco, o condomínio era enorme e ela não gostava de jogar conversa fora nos corredores. Tinha outros filhos, mas Tadeu também mal falava com eles. Então, ninguém na família sabia da vida do rapaz. Naquela tarde, recebeu a visita de uma amiga e, quando ela ia embora, foi levá-la até hall de entrada do apartamento. E, quando o elevador parou no 3 andar, Tadeu estava lá. E com uma moça. Os dois com aparência de banho recém-tomado, arrumados para sair. Alzira arregalou os olhos: — Oi, mãe — ele disse, e lhe deu um beijo na face, sem sair do elevador. — Esta aqui é a Valquíria, minha amiga. A moça estendeu a mão visivelmente constrangida. — Tadeu, meu filho, você não veio me ver? — Alzira quis ter certeza. — Hoje, não, mãe. Estamos atrasados. — Mas você não me liga há meses. Há seis não te via. — Tá, mãe, mas eu volto outro dia — respondeu, contrariado, puxando a porta do elevador e fechando-a na cara da senhora. Alzira voltou para o seu apartamento abalada. Chorou por uma hora. Mas, de repente, lhe deu uma raiva tão grande que resolveu se mexer. Queria descobrir quem era a moça e desde quando ele ia à casa dela. E foi fácil. Ligou para a portaria e, por sorte, estava lá o porteiro mais antigo. E também o mais fofoqueiro. A namorada do filho morava lá havia oito meses, no oitavo andar. E Tadeu, quando vinha vê-la, deixava o carro na vaga da mãe. Nenhum porteiro impedia. Afinal, ele estava autorizado por ela. Ele visitava a namorada quase todos dias. E muitas vezes dormia lá. — Lógico que está autorizado para entrar na minha garagem. Todos os meus filhos podem. Ou melhor, podiam. Naquela noite, quando Tadeu voltou para o apartamento da namorada, não pode entrar com o carro na garagem. Alzira tinha cancelado a autorização para o filho caçula. Ele tocou a campainha no apartamento da mãe, mas ela não atendeu. Também telefonou, e nada. Alzira tinha saído. Naquela noite foi dormir na casa da irmã. Mas o fato é que não se importou mais com ele. A decepção foi tão grande, que não o via mais como um filho. Um mês depois, a velha senhora saiu do prédio. Foi viver no interior. Tadeu nunca mais voltou a vê-la.

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