quinta-feira, 30 de junho de 2011

08/08/2010 Quarto e cozinha

quarto e Cozinha Diana parou o carro em frente ao portão enferrujado e tentou não pensar no que estava prestes a fazer. Aquele lugar não tinha nenhum charme. Na verdade, era um sobrado modesto, em uma rua sem saída, na beira de uma favela. Diana só repetia para si mesma que Adriano, o homem que tinha conhecido há algumas horas, era lindo, insinuante, e que aquilo seria somente uma aventura, um momento, uma noite.


O “quarto e cozinha” onde Adriano morava ficava no fundo do terreno, que se elevava em um morro atrás do sobrado. Era o último puxadinho. Diana desceu do carro e olhou a escadaria disforme que margeava o imóvel – parecia não ter fim. Ociosa, com vários quilos a mais, estava pouco acostumada a exercícios. Sentiu-se como numa escalada no Himalaia quando galgou os degraus, puxada pelas mãos dele.

Várias portas saiam para esta escadaria, o que mostrava que a dona do imóvel (Diana imaginava que aquele tipo de projeto era coisa de mulher) tinha, ao longo do tempo, aumentado a construção com pequenos conjugados, para alugar. Dona de um duplex na Zona Sul, aquele era o lugar onde ela nunca imaginou estar um dia, ainda mais de madrugada. Mas, pensava, o motivo valeria a pena. Diana era pura excitação.





Quando chegou à “casa” de Adriano, estranhou que nem estava esbaforida. Respirou fundo e entrou com os olhos curiosos. Já que estava ali, decidiu “saborear” cada detalhe que visse, até para entender o melhor aquele homem com quem pretendia ver amanhecer o dia.







No cubículo, Adriano tinha tudo que um homem solteiro precisava. No espaço reduzido, ele mantinha uma organização que ela, nos seus 200 metros quadrados, nunca tinha conseguido sozinha. Na pia, nenhuma louça suja. Sobre a mesa, uma xícara e talheres limpos, prontos para o próximo café da manhã. No quarto, a cama de solteiro arrumada com lençóis brancos e perfumados e um cobertor dobrado nos pés. Tudo acolhedor.





E foi na cama que eles passaram o resto da madrugada, se amando de todas as maneiras que desejaram. Ela nem fez conta do espaço apertado.





Diana saiu de lá um pouco antes da aurora. Estava nas nuvens. Pegou seu carro importado e voltou para casa bem devagar. Mas não quis olhar para trás. Pensava que, apesar de a experiência ter sido ótima, não podia ser algo para se repetir. Ela e Adriano viviam em mundos muito diferentes.





Chegou em casa quase às 6h e sua família ainda dormia. Ninguém percebeu que tinha passado a noite toda fora. Tomou um banho quente e demorado e se deitou na sua cama king size. Dormiu umas duas horas, levantou num pulo, já atrasada para uma reunião que teria ainda pela manhã.





Nunca mais viu Adriano.

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