quinta-feira, 30 de junho de 2011

25/07/2010 - Elisa ficou em paz

Elisa ficou EM PAZ Elisa estava arrasada. Tinha descido do prédio da repartição no meio da tarde para comer algo e acertar as ideias. Mas não conseguia ficar em paz. Apesar de se esforçar para se convencer que a sua decisão era a mais correta, estava chateada.


Sentada numa mesa no canto do seu boteco preferido, o garçom puxava conversa.

— A vida está difícil aí no seu trabalho, não é?

— É, Zé, está mesmo. Mas as coisas vão se ajeitar — ela tentava desconversar.

Estava faminta. O encontro na hora do almoço havia lhe cortado o apetite. E enquanto devorava o salgado mal assado, ela se lembrava da conversa que tinha enfrentado horas antes. Na hora de pagar a conta, o garçom de novo. Ele percebe no ar a distância da moça e pergunta:

— O que aconteceu, Elisa?

— Ah, Zé, tive um encontro na hora do almoço que acabou com o meu apetite.

Então, como se conseguisse perceber tudo no ar, o garçom disse, com olhar luminoso:

— Você viu o homem que você ama, é isso?

A moça ficou espantada com a ousadia. Como ele podia adivinhar? Será que ela estava dando bandeira? Fez um sim tímido com a cabeça e só.

Mas ele nem se importou. E exclamou com um ar feliz, carregado de sotaque nordestino:

— Eita, mas isso é muito bom! É muito bom!

E Zé, como quem sabe muito bem o que fala, começou a lhe dar conselhos de psicólogo.

— Olha, Elisa, se você viu o homem que ama, por que toda essa tristeza? Falou o que para ele?

— Terminei, Zé. E ele ficou lá, com cara de quem não tem o que fazer.

— Então, menina. Não tem que brigar. Se é o homem que ama, liga pra ele e diz isso. É só o que basta. Para de tristeza.

Então, Elisa percebeu o quanto era bizarra a sua a situação. Estava sentada em um boteco, recebendo conselhos de um garçom baiano que tinha idade para ser seu pai. E ele, com uma frase, tinha feito ela mudar de ideia sobre tudo que tinha falado há horas atrás — da boca do garçom, saiu a frase mais pacificadora do dia. Saiu de lá rindo por dentro, pegou o celular e ligou para a Álvares.

— Oi, sou eu. Só queria dizer mais uma coisa. Estou com saudades. E querendo ficar com você.

Aquela noite, Álvares e Elisa se amaram como nunca. Enfim, Elisa estava em paz.

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