quinta-feira, 30 de junho de 2011

06/06/2010 com lençóis novos

06/06/2010 com lençóis novos Respirei fundo e subi o lance de escadas, puxando a minha mala gigante e superpesada. Estava muito cansada. Havia trabalhado o dia inteiro e ainda ido a um curso à noite. Mas estava animada, acesa de verdade. Era o início da madrugada, 1h da manhã para ser mais exata e, pela primeira vez na minha vida, dormiria no meu próprio apartamento. E sozinha. Ele era novo, comprado por um financiamento que iria me comprometer por anos. Abri a porta, acendi as luzes, entrei e agradeci à vida, a Deus, a mim. “Consegui”, pensei. “Enfim, estou aqui. É meu espaço. Depois de tanto tentar, tantas dúvidas, tanto empenho, estou aqui. Feliz e sozinha. Mas estou no que é meu.” Fiz questão de sentir o silêncio do ambiente. Tirei os sapatos e meias e deixei o frio do piso de cerâmica subir pelas minhas veias, atiçar os meus músculos, me energizar ainda mais. Andei devagar pelos cômodos — sala, cozinha, banheiros e três quartos — , acendi todas as luzes e deixei o brilho das lâmpadas fluorescentes alegrar ainda mais a minha alma. Meu coração estava calmo, nada de palpitações exageradas. “Estranho”, pensei. Deveria estar excitada? Acho que não. Mas achei que estaria nervosa. E não estava. Ao contrário, estava tranquila, segura mesmo daquela decisão de acabar com um casamento de 15 anos e tentar a vida sozinha. Fui à geladeira, peguei um pouco de chá verde de caixinha, aqueci no micro-ondas. Abri um pacote de bolachas de água e sal, que era o disponível na despensa, ainda bem vazia. Mas seria o meu jantar. Para mim, naquele momento, aquilo equivalia a uma grande ceia. E bastou. Depois, apaguei todas as luzes e tirei a roupa para dormir no jogo novo de lençóis, branco com flores rosas. Demorei um dia a mais para mudar exatamente por causa dele, do jogo novo de lençóis. Para mim, era impossível passar a primeira noite lá com lençóis velhos, trazidos da outra casa, desgastados por uma antiga história de amor que havia acabado. A primeira noite não! Teriam que ser novos. Então, naquela manhã, tinha ido à loja correndo, só para escolher um novo. E eles estavam lá, na cama arrumada e perfumada, me convidando para a primeira noite de sono. Ao deitar, um reflexo comum — me apertei no canto direito... Então, me repreendi: “Para com isso, a cama é toda sua!” Respirei o cheiro do tecido novo, engomado, e me arrastei para o meio, entre os desenhos de rosas. Lá, no centro da minha cama, dormi profundamente e em paz. E foi assim que começou a segunda metade da minha vida.

Nenhum comentário: