segunda-feira, 3 de outubro de 2011

29/08/2010 - meninas de família

meninas de família O traficante do bairro não se contentava em passar as drogas e ficar na dele. Achando que tinha costas quentes por causa da “profissão” e dos “chefões”, Cabelão insistia em aterrorizar a vida da mocinhas da comunidade. Gostava daquelas que pareciam mais sérias. Os colegas bem que avisaram:




– Você ainda vai se dar mal – diziam.



Mas ele não se importava. Sua primeira investida foi contra Sueli. Garota estudiosa, pai operário, mãe dona de casa, daquelas que não deixa os filhos sozinhos... mas Cabelão queria namorá-la. Ficava horas na frente da casa da família analisando os passos da menina-moça. Ela percebeu, reclamou com os pais, mas decidiram não fazer nada. Um dia, porém, enquanto ela ia até uma vizinha, Cabelão a abordou com um presente:





– É pra você. Quero você, entendeu? – disse.





Sueli era forte e tinha uns 16 anos. A raiva foi tanta e a reação tão instintiva que ela até hoje não sabe explicar. Mas o que se viu foi um homem apanhando de uma moça no meio da rua até desmaiar. E, ao contrário do que todos pensavam, os colegas da boca não correram para defendê-lo.





– A gente já tinha avisado pra ele não se meter com menina de família aqui do bairro. Pode deixar, moça, que ele não vai mais te encher, eu garanto – Foi a resposta que Sueli ouviu quando, depois da surra, decidiu ir conversar com o “chefe” de Cabelão. É que ela não queria ficar fugindo ou se escondendo dentro do seu próprio bairro.





Os anos se passaram, Sueli ia se casar quando Cabelão tentou outra investida. Bêbado, foi convencê-la a mudar de ideia levando debaixo do braço um pacote de dinheiro vivo. Não deu certo. Ela e o resto da família botaram o bandido pra correr. E ela se casou e só então saiu do bairro.





Mas Cabelão continuou por ali. E logo encontrou uma nova amada. Era Gabriela, a filha de 14 anos de um açougueiro. Primeiro, ele tentou agarrá-la na saída da escola. Ela correu e contou para o pai. O homem passou a segui-la. Até que numa tarde flagrou o bandido no momento de um novo ataque à filha. O açougueiro puxou um facão e matou Cabelão. E a Justiça inocentou o homem: foi em defesa da honra da filha.





Mas o açougueiro morria de medo de voltar para casa e virar vítima de uma vingança da quadrilha. Foi então que bateram na porta de Sueli.





– Eu sei que você não mora mais no bairro, mas podia ir lá falar com o “chefão”? Meu pai está com medo de voltar pra lá. E me contaram que você nunca teve medo dos bandidos.





Lá foi Sueli enfrentar o manda-chuva de novo:





– Tranquila menina. O Cabelão não tinha jeito. Cansou de ser avisado que com você e Gabriela, meninas de família, malandro não pode mexer. Diz pro açougueiro voltar, porque não aguento mais ir longe quando quero fazer um churrasco.

Nenhum comentário: