segunda-feira, 3 de outubro de 2011

24/10/2010 - Um efeito contrário

um efeito Contrário Quando o barato bateu, Nina resolveu ir embora. Começou a se perguntar o que fazia ali, no meio da madrugada, em uma praça, compartilhando um baseado com cinco garotos, quatro deles desconhecidos. Eles tinham idade para ser seus filhos! Mas ela não era do tipo antiquado. Podia muito bem namorar com um homem mais novo. E era isso que estava fazendo. Só não imaginava que ele ia lhe arrastar para uma aventura tão juvenil.



– Vamos tomar mais uma cerveja ali na esquina? – sugeriu um dos garotos.


Ela encarou Fred como a implorar que respondesse “não, está tarde, já vamos embora”. Mas não foi isso que ouviu. O menino até retribuiu o seu olhar, mas não captou a sua súplica, e respondeu:

– Lógico, cara. Estou nessa.

Internamente, Nina explodiu. Não entendia no que a conversa chata daqueles guris atraia Fred. Ela queria ir para a casa dele, ali do lado, um quarto e cozinha de estudante universitário, com móveis de segunda mão, muito bagunçado, mas com tudo cheirando fresco. O frescor da juventude que ela mesma se esforçava para não perder. Mas naquele momento, chapada, refletia que tinha coisas da juventude que não eram para ela.

– Vou embora, então! – ela declarou, pegando a chave do carro e fazendo cara feia.

Fred levou um susto:

– Não! Espera aí! Eu vou com você! Achei que estava tudo bem, poxa!
– E está. Você pode fazer o que acha melhor. Eu não estou a fim e vou embora – ela respondeu, já dentro do carro.

Nessa hora, a cabeça de Nina rodava. Desacostumada com drogas, seu corpo reagia de uma maneira inesperada. A intenção era que ela relaxasse, mas ao contrário, se instalava nela um mau humor sem precedentes. Tudo parecia superlativo. Racionalmente, sabia que a irritação era desproporcional, mas não conseguia evitar.

Fred entrou no carro e seguiram para a casa dele. Ela se assustou porque as ruas pareciam largas, os prédios, enormes. Com o pouco de razão que lhe restava, dirigia o mais devagar que conseguia. Decidiu entrar mais por precaução do que por desejo - não podia ficar no volante daquele jeito.


Mas a noite tinha acabado para ela. O namorado bem que se esforçou, mas Nina já não achava mais graça em nada que ele fazia. Primeiro, cozinhou para ela: macarrão instantâneo, típico da dispensa de estudantes. Ela engoliu. Há uma semana, o mesmo prato tinha sido para ela como um jantar à luz de velas.
Começou a olhar ao redor e a bagunça que antes achava tão “fofa” era agora insuportável. Quando percebeu, Fred parecia ser muito mais jovem do que era e se sentiu como se fosse sua mãe. Começou a reclamar, primeiro da arrumação, depois da limpeza dos lençóis, da pia cheia de pratos, das cuecas penduradas no box do banheiro, enfim, de tudo o que ela nunca havia se importado. Falava tanto, e ele retrucando, que aquela falação virou uma discussão frenética, que ela não lembra como terminou.


Também não sabe como dormiu. Mas acordou no meio da manhã seguinte, na cama dele, de roupa e tudo. Fred dormia num tapete. Ela saiu sem fazer barulho e foi direto para casa. Já se passou mais de mês e ela ainda espera que ele ligue. Mas não tem muita convicção. É que, do pouco que lembra do bate-boca, tem quase certeza que chamou Fred de “meu filho”. Para uma amante mais velha, ela sabe, isso é igual a dizer “é o fim”.

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