terça-feira, 4 de outubro de 2011

14/11/2010 - batida para sempre

batida para sempre O corpo dela se projetou para frente com a batida. Andreia estava no banco do passageiro, sem o cinto de segurança. E bateu com o peito no console. Não foi displicência dela. Naquela época, não era costume usar o cinto, não havia a lei que multa, os jornais não faziam tanta campanha de segurança no trânsito. Mas, aparentemente, ela não tinha se machucado, pois o que se via eram apenas alguns arranhões nos braços.




Já Eduardo enfiou o rosto no vidro, quebrou os dentes, o nariz, fraturou a mão, se cortou todo com o vidro, desmaiou. Todos achavam que ele poderia morrer.





Não tinha motivo para o acidente. Eduardo não estava correndo (o velocímetro provou isso), ele e Andreia não haviam brigado e nem estavam conversando, o que poderia distraí-lo. Ele também não tinha bebido e nem tomado nenhum remédio. Por isso, até hoje, ninguém entende como o carro foi parar naquele poste. Foi perda total.





Andreia não soube explicar nada. Na verdade, tinha adormecido. Estava cansada porque tinham saído muito cedo e andado durante toda a manhã atrás de boas ofertas. Talvez Eduardo também tenha cochilado na mesma hora, dado uma daquelas “pescadas” que duram um segundo. E, naquele “frame”, ele perdeu o controle do carro. Mas Eduardo nunca reconheceu isso. Preferimos não questionar. O “como foi o acidente” ficou na conta do destino. “Era o destino deles passar por aquilo”, diz a mãe de Eduardo.





Passava um pouco das quatro, o casal voltava do Brás, onde tinham ido comprar roupas no atacado para a loja que pretendiam inaugurar no próximo fim de semana. O pai de Andreia era contra. Aliás, seu Fernandes também era contra aquele namoro da sua única filha. Ele odiava “aquele rapaz com cara de maconheiro”, sempre dizia. O acidente acabou com os planos que tinham para o futuro e mudou a vida dos três.





O Resgate chegou rápido. Ali, eles já foram separados. Cada um foi levado para um hospital. Ele, desmaiado, foi atendido em regime urgência, submetido a uma cirurgia (corria o risco de perder o movimento da mão).





Andreia, ao contrário, foi conversando na ambulância com os paramédicos, que constataram apenas escoriações superficiais no seu corpo. Foi só no pronto-socorro, uma hora depois do acidente, que ela começou a sentir dores. Naquela altura, ela já tinha feito alguns exames, que constataram lesões internas, com hemorragia grave. Quando o pai dela chegou, só teve tempo de assinar a autorização da primeira operação – eram incontáveis as lesões de Andreia.





Na primeira oportunidade, o homem transferiu a filha para um hospital do convênio, onde ela ficou internada por quase dois meses. Eduardo, ao contrário, teve alta rápido. Em 15 dias, já estava em casa. Ele, então, quis visitar a namorada. Mas o pai dela proibia as visitas do rapaz e dos amigos dele. Ele tentava todos os dias. O velho, porém, dizia à filha que o namorado não a procurava: “Vê agora, que está toda quebrada, que ele não a ama? Nunca a amou. Eu sempre disse isso!”





Fragilizada e presa na cama, ela não tinha como contestar. Cada vez mais só e deprimida, Andreia foi tomada por uma infecção generalizada. Só quando estava à beira da morte, o pai, com medo de Deus, permitiu a visita de Eduardo. Mas não deu tempo. Andreia morreu naquela manhã.

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