O lugar dava medo. Ficava em uma sobreloja, com acesso por uma escadaria estreita. Na meia luz do salão, Lourdes perguntou para a mulher da recepção se Zilda estava.
– Quem quer falar com ela?
– Diga que é a Lurdinha, uma amiga do bairro onde ela morava até o ano passado. Preciso muito falar com ela.
– Espera aqui, então.
Lourdes ficou observando o salão. Havia um sofá vermelho encardido em um canto da sala. Nele, um homem gordo tinha no colo uma moça bem mais moça, que usava um top e uma minissaia. Ela tinha idade para ser filha dele. Cortinas pesadas, de feltro azul escuro com enfeites dourados, fechavam as janelas. O lugar cheirava a cigarro e bebida. Tudo era muito pior do que ela imaginava ser um prostíbulo.
Poucos minutos se passaram quando a mulher que a atendeu voltou.
– A Zilda disse que você pode entrar. É o segundo quarto. Mas não demora muito.
Lourdes encontrou Zilda na cama meio dopada, mas com um olhar curioso.
– Afinal, o que você faz aqui? – perguntou.
Lourdes ainda estava atordoada com os últimos acontecimentos, mas só tinha uma certeza: queria arrancar de Zilda a verdade. Saber se ela era mesmo a amante de seu marido, como tinham lhe dito horas atrás. A notícia havia feito ela descobrir onde Zilda estava e, sem pensar muito nas consequências, já de noite, a tinha levado até o prostíbulo, que ficava em um bairro perigoso. Por isso, não queria fazer escândalo. Então, começou a improvisar uma história. E, conforme Zilda ouvia as palavras de sua inusitada visita, ficava mais vermelha. Lourdes disse:
– Oi, Zilda você lembra de mim, não é? Eu sou a mulher do Olavo. Eu estou aqui na mais santa paz. É que é uma emergência. É o seguinte: o Olavo morreu. É chato eu vir aqui te contar isso, porque sei que vocês eram amantes. Sabe, a gente era um casal aberto, ele me contava de você.
Nessa hora, Zilda reagiu.
– Do que você está falando, mulher? Quem é esse Olavo?
– Meu marido! Seu amante! Eu sei que ele comprou um apartamento pra você. Mas ele morreu e eu preciso de uns documentos dele. Mas não achei em lugar nenhum e achei que podiam estar no seu apartamento... aquele que ele te deu.
– Eu não tenho nenhum amante! Bem que queria ter um. Você é louca?
– Jura que não tem nada com ele, com o Olavo?
– Posso ser puta, mas não sou burra. Se tivesse um homem que me sustentasse não ia estar aqui, neste pardieiro. Mas ele tá morto?? Coitado!
Lourdes começou a chorar. Acabara de descobrir que o marido era fiel. Abraçou a puta e começou a agradecê-la.
– Ele não morreu. Eu é que inventei essa história pra você confessar. É que chegou no meu ouvido hoje que vocês eram amantes. Tinha que tirar a limpo. E eu dei um jeito de te achar. Fui na casa da sua antiga inquilina, que me disse onde você morava agora. É isso. Obrigada, obrigada!!
– Mas quem disse que eu e ele éramos amantes?
– A Fátima, uma portuguesa lá da rua. Você lembra?
– Já entendi tudo! A gente era amiga. E agora lembro quem é o seu marido. É o bonitão que ela vivia falando. Mas ficou com raiva dele porque nunca, nunca mesmo olhou para ela. E eu também briguei com a Fátima por causa de uns clientes. Essa fofoca foi vingança: mulher rejeitada sabe ser bem vingativa.
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