segunda-feira, 3 de outubro de 2011

17/10/2010 - A ponto de implodir

a ponto de implodir Renato parecia perfeito. Quase 50 anos, vida econômica estável, separado, sem filhos. Também era bonito, não aquela beleza perfeita, que atrai todos os olhares femininos. Mais um jeito, que deixava Ângela hipnotizada.




Se conheceram na tarde de um sábado, em um sambão. Da dança para a conversa, da conversa para o beijo, do beijo para uma carona, quando viram, já estavam no apartamento dela. A noite parecia ser muito promissora.





Conversaram sobre tudo. De poesia a futebol. De música à culinária. Os dois já haviam morado na Europa e tinham planos de voltar, a passeio. Os dois tinham cachorro. Os dois adoravam fotografar. Tudo entre eles parecia coincidir.





Deslumbrada, aos 45, Ângela se apaixonou. Só uma coisa, porém, a intrigou. Apesar de ficarem horas a sós, eles só trocaram beijos, e Renato não quis ir adiante no sexo. Deixou-a no meio da madrugada a ponto de implodir. Ângela suspeitou que ele não tinha ficado tão excitado quanto ela, mas preferiu acreditar que tinha sido só sua impressão. Pela manhã, esqueceu suas dúvidas quando recebeu dele um buquê de flores com um cartão cheio de palavras carinhosas:





– Encontrei um homem que se comporta à moda antiga: nada de sexo no primeiro encontro! Isso não é o máximo? – me disse naquele dia uma Ângela empolgada.





Uma semana e vários e-mails trocados depois, os dois se encontraram de novo. Foram ao cinema, jantaram e um restaurante francês e, de novo, terminaram no apartamento dela. Ângela tinha deixado tudo preparado. Vinho gelando, velas, lençóis limpos e perfumados, tudo para dar um clima perfeito ao encontro. Mas Renato, de novo, não “compareceu”. E, pior, desta vez Ângela teve certeza: ele não tinha conseguido ficar excitado.





O sonho de amor perfeito da minha amiga começava a se transformar em um pesadelo. Ela estava subindo pelas paredes e o homem que desejava não conseguia satisfazê-la. Chorosa, me ligou:





– Vi, ele não consegue. O cara é perfeito, é tudo, mas não consegue... O que faço?





A situação era tragicômica:





– Calma... Se está tão interessada, vale a pena insistir, tentar conversar, ver o que é.





Lá foi Ângela para um terceiro encontro. Marcaram um café num domingo à tarde. Falaram da infância, riram a valer. Era alto verão, fim de tarde, e resolveram dar um passeio no Ibirapuera. O coração de Ângela acelerou quando ele pegou na sua mão. Pareciam namorados. Ele, então, a levou para casa. Mas não quis subir. Ela estava inconformada:





– Chega. Não posso com isso. Não vou mais procurá-lo!





Renato parece que pensou o mesmo. E, por duas semanas, não se falaram. Ângela ficou triste e saudosa. Até que, numa quinta, ele lhe ligou. Ela ficou feliz e o chamou para jantar – ia cozinhar para ele.





O moço levou vinho e flores. Ela fez um risoto e salada picante, tudo delicioso. De sobremesa, creme de papaia com licor de cassis. No sofá, ao som de música romântica, Ângela só pensava: “Agora vai!”.





Mas não foi. Ele não conseguia... Ela tentou tirar a roupa dele, mas Renato a impediu. Descontrolada, ela sugeriu:





– Olha, vamos já numa farmácia comprar Viagra! Não é possível que não dê jeito!





O rapaz se esquivou e disse, com cara de indignado:





– Não! Você não entende! Eu não preciso disso!





E foi embora. Nunca mais apareceu.

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