sexta-feira, 3 de julho de 2009

9 de novembro de 2008

09/11/2008 a fuga e a chuva O dia amanheceu chuvoso. Jandira espiou pela janela e sentiu um arrepio forte na nuca: “Será que terei coragem?”, questionou-se. Mal tinha dormido naquela noite. Acordou de hora em hora, ansiosa pelo início da manhã. Pensava no que lhe esperava ao longo do dia: “Se conseguir, será o dia mais importante da minha vida”, pensava. Estava assim, dispersa, vendo a chuva cair na rua, quando escutou os sons comuns das suas manhãs: a descarga e o marido limpando a garganta, a filha ligando o chuveiro, o despertador seguido de rock vindo do quarto do caçula. Se assustou e correu para a cozinha: “Vou fazer logo esse café!”, decidiu. Sentiu um certo alívio quando se viu sozinha em casa. Podia se trocar com calma e seguir com o seu plano. Colocou algumas roupas dentro de uma pequena bolsa de viagem, vestiu uma saia cinza, uma cacharrel vermelha, uma bota de couro preta e um lenço amarelo na cabeça. Por cima, uma grossa capa azul-marinho. Odiava os guarda-chuvas. Também tirou da gaveta o velho óculos escuro, que não usava havia pelo menos cinco anos: “Nunca mais Ernesto nos levou à praia no verão”, lembrou, com uma certa amargura. Saiu de casa, trancou a porta e não olhou para trás. A chuva havia dado uma trégua e ela caminhou tranqüila até o ponto, onde pegou o ônibus para o Centro. Andou pelos calçadões cheios de poças, olhou as vitrines com um prazer de mulher livre e, na hora do almoço, comeu um lanche barato num fast-food comum. Depois, tomou outro ônibus para a Zona Norte. Ainda não eram duas da tarde quando chegou. Haviam marcado às cinco na frente do portão principal do Horto. A chuva voltava a ficar forte e o céu, agora, transformava-se: estava assustador. Jandira não se intimidou. Olhou em volta, as pessoas correndo para se safar da tempestade. Mas ela iria esperar. Não compreendia como tinha tido coragem de chegar até ali, mas, já que havia ido tão longe, atravessou a rua e se postou sob o orelhão, bem em frente ao portão do parque. A chuva caia cada vez mais forte e ela, sozinha, começou a ter dúvidas. Quis ir embora, mas acreditava que precisava ficar. Estava paralisada e confusa. Sua cabeça girava, o coração batia apressado e os olhos, marejados de lágrimas que não caiam, não viam mais nada. Nem sabe ao certo quanto tempo ficou lá. A tempestade foi se dissipando, o ar ficou fresco e, de repente, percebeu que a noite se aproximava. Sentiu medo e, só então, conseguiu se mexer, sair da imobilidade sob aquele orelhão, e correr para pegar um ônibus de volta para casa, para a sua vida. Cinco minutos depois, chegaria um carro e pararia bem em frente ao portão do parque. Cleber desceria e veria o orelhão vazio. Onde ela estaria? Ficou lá alguns minutos, a chuva voltou a cair e ele logo percebeu: nunca mais saberia dela.

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