sexta-feira, 3 de julho de 2009

12 de outubro de 2008

12/10/2008 em câmera lenta Tudo aconteceu muito rápido. Foi como um frame, uma foto, uma imagem que era para ficar mesmo congelada na memória. Foram três, talvez quatro segundos, no máximo. Elisa não saberia dizer ao certo. Para ela, porém, era como se estivesse em uma cena em câmera lenta. — Será possível um frame em câmera lenta, Vivi ? Ali era como se fosse. Agora, eu tento lembrar da cena para observar melhor os detalhes — me diz, antes de continuar a contar a história. Minha amiga lembra que estava muito distraída naquela manhã, andando na calçada com a filha, perto da padaria de sua casa. — Você me conhece, isso é difícil de acontecer. Na rua, eu estou sempre atenta ao ambiente, multiplicando meus olhares, tentando enxergar tudo o que está à minha volta, principalmente por causa do perigo da cidade. Naquele instante, porém, Elisa estava andando muito devagar, olhando um panfleto que um menino tinha acabado de lhe dar. Era a propaganda de um novo prédio de apartamentos no bairro. — Então, ali, quase parada, completamente absorta, eu escutei que me chamaram. Mas não ouvi nenhum som de fato. Foi um grito mudo, mas tão certeiro que meus olhos se viraram diretamente para o local exato de onde vinha o chamado. É que foi num susto que ele me viu, eu sei. E ele nunca ia querer me chamar. Mas, quando virou a esquina, e me encontrou lá, quase parada, sem percebê-lo, instintivamente reduziu a velocidade do carro. E, por dentro, falou meu nome tão alto que eu, mesmo sem escutar, não pude deixar de ouvir. E me virei e olhei diretamente para ele, sem precisar procurar. Para Elisa, aquele foi um momento mágico. Com o canto dos olhos, queixo voltado para baixo e o corpo na outra direção, ela se encontrou com o seu amor mal resolvido e também levou um susto. Percebeu que Álvares estava lá, como ela, quase parado, sentado ao volante do carro, sem saber o que fazer mas disfarçando, fingindo não a ver atrás de óculos de lentes escuras. — Nenhum de nós disse nada, nenhum parou de fato. Talvez porque não tivéssemos mesmo como parar nem o que falar. Álvares simplesmente voltou a acelerar, desconcertado. E eu não consegui ver uma forma para voltar e encontrar com ele, conversar francamente. O que aconteceu em seguida foi que ambos seguimos para frente, em direções de novo opostas, acho que tentando imaginar se um dia os nossos caminhos vão de novo se cruzar — concluiu. Eu então perguntei: — Ou tentando planejar um jeito de um dia os seus caminhos de novo se encontrar, hein?

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