sexta-feira, 3 de julho de 2009

7 de dezembro de 2008

07/12/2008 agenda de prefeito Virgínia morava havia apenas dois anos em Santo Inácio, mas conhecia a cidade como ninguém. Já tinha estado nos bairros mais periféricos e também nos mais famosos e badalados. Tinha na ponta da língua os nomes das principais personalidades do local, sua profissão, tendência política e importância para o município. Economista, Virgínia foi contratada pela prefeitura para fazer um projeto especial em apenas seis meses. Deveria analisar a vantagem econômica de transformar o centro antigo da cidade, que tinha um conjunto de prédios da década de 30, em área turística. Mas, após terminar o trabalho, deu um jeito de ficar morando em Santo Inácio. A decisão de viver a 500 quilômetros de sua terra natal tinha, porém, nome e RG: Marcio, um negro de 1,80 metro, musculoso, viril e muito, mas muito calado. Segurança e motorista particular do prefeito, ele era considerado uma das figuras mais discretas da prefeitura. Por mais que fosse abordado e bajulado, nunca dizia nada sobre a vida do chefe, nem uma única indiscrição. E também era discreto sobre a própria vida particular: poucos sabiam seu endereço e ninguém jamais o vira falar de uma mulher, apesar de ele ser um dos homens mais assediados da repartição e de ter saído com várias. Foi por causa do “deus de ébano”, como Virgínia gostava de chamá-lo, que minha amiga conhecia tão bem Santo Inácio. — Por dois anos, eu fui a todas as inaugurações desta cidade, podia fazer chuva ou sol. Ia a tudo o que tinha na agenda do prefeito para ver o meu “deus”. Nunca conheci alguém tão persistente como Virgínia. Não era apenas uma atração física o que ela sentia pelo segurança do prefeito. Era uma paixão que não media esforços para conquistar o que queria. — Amor à primeira vista, acredita? Mas ele, durão, não me dava bola. Então, eu não tinha outra saída. Até que um dia o homem se deixou cair pelas madeixas loiras de Virgínia. Foi numa tarde de novembro, quando o prefeito chamou o seu secretariado para uma reunião urgente sobre as enchentes. Márcio não precisou ficar no gabinete do prefeito e foi dar uma volta no prédio. — Depois me contou que estava tentando descobrir onde era a minha sala. A providência fez com que os dois se encontrassem no corredor do refeitório. Virgínia tinha descido para fumar um cigarro e pegar uma garrafa de café para a sua equipe. E ele se preparava para subir de elevador de volta à sala do prefeito. Então, aconteceu o mais desejado por minha amiga. — Quando ele me viu com a térmica, perguntou se eu não preferia subir pelo elevador particular do prefeito. Lógico que eu quis: aquele elevador é o mais apertado do mundo! E foi ali, num cubículo, que a térmica caiu no chão e eu nem liguei. Grudei no pescoço do negão e, até hoje, é lá em casa que ele mora.

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