sexta-feira, 3 de julho de 2009

19 de outubro de 2008

19/10/2008 amigas de verdade A Janaína, uma colega do trabalho, diz que nunca pensa em rever o passado. Ir atrás de antigos amigos ou retomar velhos amores, para ela, parece loucura total. — Não entendo por que, depois de uma certa idade, as pessoas querem remexer no passado. Isso só pode dar problemas — ela diz. Janaína me falou isso quando eu lhe contei sobre duas conhecidas, que um dia resolveram rever sua amizade de 20 anos. As duas eram amigas de verdade. Pelo menos acreditavam nisso, mesmo sabendo das diferenças que existiam entre elas. Virgínia era mais tímida, não gostava de conflitos, mas era sempre persistente. Não desistia fácil do que queria e, mais cedo ou mais tarde, chegava lá. Já Letícia era mais crítica com os outros, muito alegre e criativa, mas vivia cheia de dúvidas sobre o curso de sua vida. Apesar das diferenças, em 20 anos, tiveram pouquíssimas brigas, nenhuma séria. Havia atitudes que uma reprovava na outra? Sim, mas nunca falaram sobre isso. Qual não foi a surpresa de Virgínia quando a amiga lhe fez a seguinte proposta: — Vamos conversar sobre nossa amizade? Estou revendo o meu passado e queria falar sobre nós. Virgínia teve um mau pressentimento, mas topou. Marcaram um chá numa tarde de sábado. Quando alguém se dispõe a colocar na mesa ressentimentos do passado, deve-se estar preparado para o que virá. Podem ser revelados sentimentos nunca antes imaginados. E foi mais ou menos isso o que aconteceu com as duas amigas. Letícia foi a primeira a falar: — Apesar de sermos tão próximas, sinto que não somos sinceras uma com a outra. Virgínia não amenizou a língua: — É, nunca confiamos uma na outra. Começaram a surgir na mesa histórias que, pensavam, estavam esquecidas. Mas que, para espanto das duas, não estavam. — Você deu um beijo no Francisco. — Mas eu tinha 16 e você não gostava dele. — Lógico que gostava. — E você? Conseguiu o emprego no escritório e não me indicou para trabalhar lá também. — Não me convidou para ser sua madrinha! E por aí foi. Existiam acusações mútuas para cada fase da vida delas. Várias esdrúxulas. Mas nada estava resolvido. Nada perdoado. O chá esfriou e a boca amargou. Então, Letícia deu o veredicto. — Eu agora tenho toda a certeza do mundo: nunca fui sua amiga. E Virgínia, assustada, contestou: — Não é assim. Tudo depende do que se sente. Eu sempre gostei de você. O resto é bobagem. — Não. Essa amizade, se é que existiu, acabou.

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