sexta-feira, 3 de julho de 2009

28 de dezembro de 2008

28/12/2008 conta do destino Valquíria ficou curiosa quando sua terapeuta holística lhe enviou naquele janeiro um e-mail com o título “Ano Pessoal”. Na introdução, a explicação de que, na numerologia, a vida do ser humano se divide em ciclos de nove anos, calculados de acordo com o dia e o mês de nascimento da pessoa. No texto estava a fórmula para descobrir em qual ano a pessoa estava e o que poderia esperar dele. Aficionada por horóscopos, i-ching, tarôs e todos os tipos de leituras de sorte, Valquíria não perdeu tempo. Pegou um pedaço de papel e um lápis e foi às contas. O resultado era promissor. Afinal, ela estava no Ano Um, aquele em que tudo se abre para o novo, para os inícios, recomeços e oportunidades. Se sentiu tocada pela sorte. “Este será o meu ano”, pensou. Em janeiro, parecia que a previsão numerológica não tinha como falhar. Reencontrou um ex-namorado e retomaram o relacionamento. Tinham se afastado quando ela estava no Ano Cinco, calculou, e o recomeço em pleno Ano Um era o sinal que precisava para continuar sem medo. No trabalho, ela estava acomodada. Mas, depois de três anos na empresa, foi informada que receberia novas tarefas no início do mês seguinte e ficou animada. Na certa, ganharia uma promoção e o tão batalhado aumento. A descrição do Ano Um, portanto, lhe pareceu merecida. Fevereiro chegou e, em vez de ser promovida, ela foi transferida de setor. Ter que deixar colegas e principalmente rotinas de trabalho tão metodicamente construídas não era exatamente o que ela queria. Aumento de salário? Nem pensar. Ela suspeitou que algo estava errado na numerologia, mas ao ler de novo a explicação do Ano Um, concluiu que a mudança era uma nova oportunidade. Mas Valquíria passou a não entender nada mesmo quando seu namoro começou a dar errado. Gio parecia distante. Eles combinavam para sair e o rapaz não aparecia ou ligava em cima da hora para desmarcar. No final de abril, Gio desapareceu completamente. Para piorar, ela estava detestando a nova fase no trabalho e, numa crise de raiva, brigou com seu chefe e foi despedida. A menos de um mês de seu aniversário, torceu para que tudo fosse apenas parte do seu “inferno astral”, mas sua vida estava mesmo era de ponta-cabeça. Então, aos prantos, ligou para Ilka, sua terapeuta, para pedir explicações. Afinal, que fórmula de “Ano Pessoal” era aquela? Se sentia enganada pelos números. —- Você leu tudo o que estava escrito lá? — Lógico, Ilka! Calculei e sou Ano Um. — Mas o Ano começa no aniversário. Então, você ainda é Nove, o último do ciclo, o período em que tudo o que não serve mais vai embora, querendo ou não. Valquíria respirou aliviada. Afinal, estava escrito que aquela não era uma fase de assumir compromissos. Podia estar sem trabalho e sem amor, mas enfim podia ficar em paz porque tudo ia melhorar: tinha um destino. Era só ter paciência e esperar a vida passar.

Nenhum comentário: