sexta-feira, 3 de julho de 2009

23 de novembro de 2008

23/11/2008 promessa da noite Aquela noite prometia. Seria a primeira vez desde a separação que Matilde passaria um Dia dos Namorados com alguém especial. Seus dez anos de casada não contavam. Antero, seu ex-marido, havia perdido o romantismo logo no início do casamento. Ele costumava dizer que “esse tipo de data” era só uma desculpa para lojistas ganharem dinheiro. Se Matilde argumentava que eles não precisavam trocar presentes, mas apenas curtir uma noite a dois, ele respondia que eles poderiam ter intimidades em qualquer noite. Matilde acabou desistindo de tentar, mas a cada ano engolia uma frustração secreta. Então, quando ela se deu conta de que o Dia dos Namorados estava perto, começou a planejar como seria a noite. A primeira providência foi arrumar um lugar onde deixar os filhos. Teria que convencer a mãe a ficar com os dois meninos, de 9 e 5 anos. Sua mãe era rigorosa e não permitia que os netos dormissem na sua casa só para Matilde sair: — Mulher separada não tem que se dar ao desfrute — dizia. Mas Matilde ganhou o pai: — Ela tem que arrumar outro marido é logo. Não era bem isso que Matilde pensava, mas pelo menos estava resolvido o seu problema imediato. Sem os filhos, Matilde tratou de arrumar o ambiente. Arrumou a casa dando um toque especial ao seu quarto, que encheu com velas levemente perfumadas. Comprou dois vinhos importados, preparou um jantar leve e, para sobremesa, escolheu o sorvete de chocolate com calda de morango, que já sabia era a preferido de seu novo amor. Usaria um vestido preto básico, mas ia estrear uma lingerie novinha em folha: corpete de tecido de oncinha, com meia-liga preta, tudo muito fácil de arrancar até com os dentes, se fosse preciso. Saulo chegou com flores e um pacote de presente: — É para você relaxar — ele disse. — Então, vou abrir mais tarde — respondeu. Depois do jantar, foram para o sofá. Ela estava toda afoita, querendo ir logo para a cama. Também excitado, ele tentava ir mais devagar. De repente, parou e perguntou de supetão: — Você não vai abrir o presente? Matilde deu uma suspirada e respondeu: — Ok, eu abro — disse, com um sorrizinho assanhado, imaginando que seria algo muito sexy. Mas, ao abrir o pacote, a surpresa: embrulhadas em papel de seda, Matilde encontrou pantufas: — Pantufas com a carinhas de elefante!!! Ele disse que era para aquecer os meus pés e não me esquecer dele. E não me esqueci mesmo. A noite perdeu a graça. Perdi o tesão e fiquei tão furiosa que botei ele pra fora, com as pantufas e tudo.

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