sexta-feira, 3 de julho de 2009

16 de novembro de 2008

16/11/2008 o amor de tatinha Foi numa tarde de sol que Tatinha resolveu cair no mundo. Não era a primeira vez que ela deixaria tudo para trás. A família, a escola, as certezas, enfim. Tudo ela trocaria, de novo, por Sapão. Para ela, uma adolescente de 16 anos, Sapão era sua grande paixão. O rapaz mais bonito e com a personalidade mais forte da vizinhança. Para sua família, ele era um aprendiz de traficante que já tinha ido parar na Febem uma vez e que não traria nenhum futuro para Tatinha. Mas ela não acreditava na falta de caráter de Sapão. Sabia que ele conhecia traficantes, que usava drogas, mas acreditava que a vida errada era só uma passagem. Sapão sempre lhe dizia que faria um grande negócio, que ganharia uma bolada e que eles viveriam juntos e bem, com filhos lindos em uma casa boa. E Tatinha confiava. Mesmo porque odiava a vida pobre com a família, sua mãe sempre doente, a saudade do pai que tinha se matado, e seus irmãos mais velhos jogando nela a culpa por tudo de ruim que acontecia na casa. Então, naquela tarde, ela mentiu de novo. Disse que precisava fazer um trabalho de escola na casa de uma amiga e desapareceu. De noite, quando os irmãos chegaram do trabalho, a mãe estava louca de preocupação. Eles a procuraram por toda a vizinhança e nada de Tatinha. No dia seguinte, bateram na porta de Sapão e ele também não estava. Seus pais, cansados da vida confusa do rapaz, o haviam expulsado de casa no dia anterior. Tatinha reapareceu uma semana depois, toda suja e faminta, com os olhos vidrados. Parecia alucinada e não quis escutar ninguém. Se limitou a pegar algumas roupas, as colocou numa sacola plástica de supermercado, e desapareceu de novo. — Não tem jeito — disse para a mãe, em desespero — vocês não me entendem. Seis meses depois, nos jornais, uma nota de canto da página contava o destino de Tatinha: “Um rapaz foi morto ontem de madrugada numa troca de tiros com a polícia, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Segundo a PM, André Ricardo Pereira, o Sapão, de 18 anos, era o chefe do tráfico na Favela Lindo Céu. No barraco onde estava, a polícia encontrou dois quilos de maconha, 15 pedras de crack e 50 papelotes de cocaína. Os policiais disseram que, ao perceber que o barraco estava cercado, Sapão começou a atirar. No local, a polícia também encontrou I.S., de 16 anos, que está grávida. A família da moça contou que ela estava desaparecida havia meses, depois de fugir de casa. Na delegacia, I. parecia em estado de choque e se limitou a dizer: ‘Eles mataram o meu amor’”.

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