quinta-feira, 14 de abril de 2011

Na mesma esquina

E lá estavam eles novamente, abraçados, como há quase 20 anos. Álvares e Elisa não haviam planejado aquilo. Tinham acabado de sair de uma reunião com a velha turma da faculdade, cada um para um lado da cidade, e nem imaginavam quando iriam se rever.

Mas Elisa estava muito curiosa para saber o que Álvares havia achado do reencontro, organizado pelos dois, pela internet. E ligou no número do celular que ele acabara de gravar para ela.

— Fiquei constrangido... Mas... foi com você!

Álvares e Elisa haviam tido um estranho caso durante a faculdade. E nenhum deles sabia ao certo como tinha terminado. Os dois nunca assumiram um namoro. Álvares queria sair com quem bem entendesse e Elisa não achava que tinha o direito de cobrar fidelidade. Um dia, porém, percebeu que não tinha saúde emocional para levar uma relação tão aberta e partiu para outra. A ele, não disse palavra. E ele também não procurou saber.

Só se reencontraram anos depois, graças à internet. “Oi, tudo bem? Te encontrei no Orkut. Tinha certeza de que te acharia neste mundo virtual. Estou procurando velhos amigos. Manda notícias. Bjs. Álvares” — dizia a primeira mensagem que recebeu dele.

Elisa se considerava uma mulher bem resolvida. Mas sabia, lá no fundo do coração, que nunca havia esquecido Álvares. Secretamente, fez da imagem dele uma espécie de “amigo imaginário”, a quem contava tudo. Por isso, tinha certeza de que voltar a falar com Álvares lhe traria algum bem.

Conforme iam trocando mensagens, colocavam os pingos nos “is” que ficaram do passado. Foram descrevendo as mágoas que sobraram e tentando explicar os porquês das atitudes tomadas. Não pediram desculpas, porque a vida já havia tirado a razão de muitas coisas feitas lá atrás.

Foi aí que veio a idéia de organizar o reencontro da turma. Os dois estavam morrendo de vontade de se ver, mas sozinhos não tinham coragem nem de propor. E em território neutro tudo é mais fácil.

Umas dez pessoas apareceram. Elisa foi a última a chegar. Álvares já achava que ela ia dar o cano. Os olhos dos dois brilharam quando se viram. Se abraçaram de saudades e sentaram um ao lado do outro. Conversaram sem parar, rindo um do outro e de todos. Na hora de ir embora, nenhum dos dois queria, de verdade, ir sozinho. No meio do caminho para casa, sem agüentar de curiosidade, ela ligou para ele:

 — O que achou do reencontro da turma?

— Fiquei constrangido... Mas... foi com você!

Ela resolveu entender o que aquilo significava. Ainda pelo celular, ele a guiou até onde estava. Desceram dos carros e se largaram um nos braços do outro. No meio da multidão de estranhos, na rua, estavam ainda mais à vontade. E se beijaram. Não escolheram, mas talvez por coincidência, ou pela providência, a esquina era a mesma onde haviam se conhecido, há 20 anos.

Publicado na Diário DEZ! em 20 de julho de 2008

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