domingo, 10 de abril de 2011

18/04/2010 - UM ÚLTIMO desejo

04/18/2010 UM ÚLTIMO DESEJO Foi só por amor que ele a levou para o altar. João não tinha religião, nem acreditava em rituais de passagem ou convenções sociais. Mas ele a amava, apesar de nunca ter conseguido declarar-se com todas as letras. O importante, porém, é que Edite sabia. Ela também não precisava de palavras ditas ou escritas, mas acreditava em Deus, em destino, em carma e, naquela altura de sua vida, precisava de ações concretas. Edite e João moravam juntos havia 15 anos. Na juventude, namoraram por três anos — um romance cheio de brigas e desencontros. Até que João conheceu outra, se encantou e, em três meses, se casou. Foi um baque para Edite. — Por quê? – ela quis saber, na véspera do casamento. — Porque a Tina é descomplicada. Eu gosto de você, mas estou cansado de problemas. Era uma noite morna de primavera. Edite tinha ido até a casa de João por ter esperanças de fazê-lo mudar de ideia. Mas, com a resposta, sentiu seu coração congelar. Ela pensou que ia morrer de tanta dor. Mas sobreviveu e buscou a felicidade em outros romances, no trabalho e na religião. João, por sua vez, percebeu que não existe ninguém descomplicado. Três filhos e 16 anos depois do casamento com a moça que não lhe daria dores de cabeça, deu-se conta de que nunca seria feliz com ela. E separou-se. Só pensava em rever Edite. Mas não foi fácil. Primeiro, teve de encontrá-la. A ex tinha sumido do mapa. A internet o ajudou, mas a busca demorou mais de um ano. Quando ele conseguiu localizá-la e fazer o primeiro contato por um endereço de e-mail, veio o pânico. — E se ela estiver casada e feliz? E se ela me achar horroroso? Por que ela ia querer falar comigo? — pensou, assim que clicou na tecla enviar. Só que Edite respondeu. Ela estava surpresa com o contato, mas, no fundo, esperava que ele viesse, um dia. Enquanto escrevia a resposta, porém, a mágoa e o ressentimento ainda a moviam. Mas queria superar aqueles sentimentos e aceitou revê-lo para conversar. Para o mundo, os dois tinham mudado muito nos últimos anos. Mas um não enxergava no outro tantas diferenças. — Era como se a gente tivesse continuado uma conversa que paramos ontem — me explicou João. Aos poucos, eles retomaram o namoro, também as antigas brigas, e em pouco tempo decidiram morar juntos. João descobriu que era só na controvérsia que ele seria feliz. Tiveram um filho, montaram um negócio juntos, enfim, viveram a vida sem medo. Mas, para Edite, faltava algo. Ela era religiosa. Aceitava viver sem casar na igreja porque João era ateu, mas ainda sonhava com aquela parafernália toda da cerimônia religiosa. A resistência dele, porém, acabou numa tarde de inverno. Edite foi internada às pressas e só então João descobriu que ela estava doente. Quando saíram do hospital, a pediu em casamento. Tudo foi impecável. Edite tinha a convicção de que João só fazia aquilo porque a amava. Ele chegou a pensar que a realização daquele sonho podia curá-la. Mas, no final, percebeu que não. Uma semana depois ela se foi. E ele guarda com um certo orgulho a imagem dela, feliz como nunca, no seu vestido branco.

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