quinta-feira, 14 de abril de 2011

02/05/2010 - AS DORES DO AMOR

A dor de cabeça repentina o derrubou no chão.


Elisa ficou assustada. Não sabia o que fazer. Tentou

levá-lo ao hospital, mas tudo o que Álvares

queria era ir embora daquela praia, voltar para a

cidade, para casa. Ela não entendia o que estava

acontecendo. Por que, subitamente, aquela dor e a

vontade de partir? Não havia motivo.

A noite tinha sido ótima. Eles não haviam bebido

e fizeram amor até de madrugada. Quando ela

acordou, cedinho, ele dormia tranquilo ao seu lado.

A barraca estava aberta e ela olhou o mar. Sentiu

um frio na barriga— era a primeira vez que

passava a noite toda com um homem. Quando ele

acordou, parecia feliz. Saiu para ir ao banheiro e

voltou com a cara fechada, falando da dor, do

tombo, que iam embora,mas não explicava nada

para ela. Elisa sentia como se tivesse feito algo para

aquilo acontecer. Mas não sabia o quê.

Talvez por isso o romance de Álvares e Elisa tenha

durado tão pouco. Na verdade, acabou ali. De

volta à cidade, nunca mais falaram sobre o que tinha

acontecido naquela manhã e, logo depois,

deixaram de se ver. Muitos anos se passaram até

que se reencontrassem. E foi como uma explosão

de sentimentos. Eles não sabem dizer se foi a lembrança

da noite de amor na praia ou pura saudade,

mas o que aconteceu é que os dois recomeçaram o

romance. Foi um movimento mais forte do que

eles. E omelhor é que, agora, a barraca não era

mais necessária. Cada um tinha a sua casa.

A primeira noite foi na casa dele. Ainda cedo,

estavamfazendo amor. Só deixarama cama perto

da hora do almoço. Decidiram comer fora. Quando

já estavam prontos para sair, ele parou no meio

da sala e colocou a mão da cabeça. Parecia grave.

— De repente veio essa dor insuportável! Não

vou conseguir sair de casa, desculpe — ele disse.

Elisa mal podia acreditar. Parecia um remake.

“O que eu fiz?”, se perguntou. Mas respirou fundo

e o fez deitar em seu colo. Talvez comumcarinho

aquilo passasse. Então, ela perguntou:

— Engraçado... Aquela vez, na barraca, foi a

mesma coisa, você se lembra?

— É que tenho cefaléia orgástica. Acontece

sempre quando é tudo muito bom. E aquela vez,

na praia, foi a primeira crise! — ele confessou.

Elisa caiu na gargalhada. Afinal, a “desgraça”

dele era, realmente, sua “culpa”. E saber daquilo,

para ela, foi muito, mas muito bom.

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