A dor de cabeça repentina o derrubou no chão.
Elisa ficou assustada. Não sabia o que fazer. Tentou
levá-lo ao hospital, mas tudo o que Álvares
queria era ir embora daquela praia, voltar para a
cidade, para casa. Ela não entendia o que estava
acontecendo. Por que, subitamente, aquela dor e a
vontade de partir? Não havia motivo.
A noite tinha sido ótima. Eles não haviam bebido
e fizeram amor até de madrugada. Quando ela
acordou, cedinho, ele dormia tranquilo ao seu lado.
A barraca estava aberta e ela olhou o mar. Sentiu
um frio na barriga— era a primeira vez que
passava a noite toda com um homem. Quando ele
acordou, parecia feliz. Saiu para ir ao banheiro e
voltou com a cara fechada, falando da dor, do
tombo, que iam embora,mas não explicava nada
para ela. Elisa sentia como se tivesse feito algo para
aquilo acontecer. Mas não sabia o quê.
Talvez por isso o romance de Álvares e Elisa tenha
durado tão pouco. Na verdade, acabou ali. De
volta à cidade, nunca mais falaram sobre o que tinha
acontecido naquela manhã e, logo depois,
deixaram de se ver. Muitos anos se passaram até
que se reencontrassem. E foi como uma explosão
de sentimentos. Eles não sabem dizer se foi a lembrança
da noite de amor na praia ou pura saudade,
mas o que aconteceu é que os dois recomeçaram o
romance. Foi um movimento mais forte do que
eles. E omelhor é que, agora, a barraca não era
mais necessária. Cada um tinha a sua casa.
A primeira noite foi na casa dele. Ainda cedo,
estavamfazendo amor. Só deixarama cama perto
da hora do almoço. Decidiram comer fora. Quando
já estavam prontos para sair, ele parou no meio
da sala e colocou a mão da cabeça. Parecia grave.
— De repente veio essa dor insuportável! Não
vou conseguir sair de casa, desculpe — ele disse.
Elisa mal podia acreditar. Parecia um remake.
“O que eu fiz?”, se perguntou. Mas respirou fundo
e o fez deitar em seu colo. Talvez comumcarinho
aquilo passasse. Então, ela perguntou:
— Engraçado... Aquela vez, na barraca, foi a
mesma coisa, você se lembra?
— É que tenho cefaléia orgástica. Acontece
sempre quando é tudo muito bom. E aquela vez,
na praia, foi a primeira crise! — ele confessou.
Elisa caiu na gargalhada. Afinal, a “desgraça”
dele era, realmente, sua “culpa”. E saber daquilo,
para ela, foi muito, mas muito bom.
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