quinta-feira, 14 de abril de 2011

25 de abril de 2010 - CASAMENTO sem festa

CASAMENTO SEM FESTA

Sheila achou que já tinha


superado a paixão que sentia

por Marquinhos quando recebeu

o convite do seu casamento.

Sentiu um frio bom na barriga.

Lembrou de todos os momentos

importantes do seu

namoro de tantos anos atrás.

Morava no sítio e era ainda

uma menina quando conheceu

o Marquinhos. Os dois

iam juntos para a escola. A

amizade de criança se transformou

em namorico e, depois,

em paixão juvenil.

Na época, beijos e encontros

às escondidas eram o máximo

de ousadia a que eles se

permitiam.

—Aconteceu que minha

mãe nos pegou no pomar, encostados

em uma jabuticabeira.

Foi uma confusão.

Descoberto o namoro,

Sheila e Marcos tiveram de ouvir

dos pais toda a ladainha sobre

o perigo que o namoro cedo

poderia provocar no seu futuro.

Sheila queria muito estudar.

Não gostava da vida do sítio,

queria conhecer omundo.

Marcos não. Ele também queria

estudar, mas estava decidido

a continuar no interior.

— E foi assim que o namoro

acabou. Ele até que insistiu,

eu chorava como uma louca,

mas tinha um medo danado

de ficar como minha mãe:

uma sitiante cheia de filhos.

Depois, já formados, chegarama

se ver, mas, para ela,

era impossível conciliar suas

novas vidas. Aquilo tudo tinha

acontecido há tanto tempo

que Sheila não viu motivos para

faltar no casamento do exnamoradinho.

Mas na cidade do interior

onde todos se conheciam, a

chegada dela para a festa causou

um certo furor. A família

do noivo ficou tensa. A dela a

aconselhou que faltasse à cerimônia.

O que Sheila não sabia

é queMarcos tinha demorado

anos para conseguir se relacionar

com outra moça. E aquela,

a noiva, era de fora, não sabia

de toda a história dos dois.

Sheila, porém, não deu ouvidos

a ninguém. Achava toda

a preocupação um exagero.

— Gente, somos adultos!

Tudo isso já passou! — dizia.

Mas, sem se dar conta, ao

longo do dia, Sheila bebeu

mais do que de costume. Trôpega

e eufórica, quando chegou

à igreja, mal conseguiu

respirar quando viu o noivo.

— Ele está lindo! — disse à

sua irmã.

Toda a paixão adolescente

voltou de uma só vez. A vontade

de Sheila era gritar para o

noivo desistir daquele casamento.

Dizer para ele que ela,

enfim, estava lá, que sim, o

amava loucamente.Que, todo

esse tempo, tinha só se enganado.

Que sua vida fora da sua cidade

natal era, de fato, um saco

— não era feliz, não tinha ninguém,

era solitária.

E, cheia da coragem que a

bebida dá, estava prestes a correr

para o altar quando começou

a tocar a marcha nupcial.

Sua autoconfiança foi parar no

pé. Sentada no fundo da igreja,

tinha uma visão privilegiada

da noiva parada na porta,

pronta para dar o passo mais

importante de sua vida. E a visão

da moça foi um choque.

— Ela é linda! — cochichou

no ouvido da irmã, desatando

a chorar sem parar.

A irmã precisou tirá-la da

igreja. Os soluços cortavam o

silêncio da cerimônia. De carro,

foram para uma cidade vizinha,

longe da festa. Dormiram

em um hotel e, no dia seguinte,

tudo o que Sheila queria

era voltar para casa e esquecer

que um dia tinha tido um

namoradinho no interior.

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