CASAMENTO SEM FESTA
Sheila achou que já tinha
superado a paixão que sentia
por Marquinhos quando recebeu
o convite do seu casamento.
Sentiu um frio bom na barriga.
Lembrou de todos os momentos
importantes do seu
namoro de tantos anos atrás.
Morava no sítio e era ainda
uma menina quando conheceu
o Marquinhos. Os dois
iam juntos para a escola. A
amizade de criança se transformou
em namorico e, depois,
em paixão juvenil.
Na época, beijos e encontros
às escondidas eram o máximo
de ousadia a que eles se
permitiam.
—Aconteceu que minha
mãe nos pegou no pomar, encostados
em uma jabuticabeira.
Foi uma confusão.
Descoberto o namoro,
Sheila e Marcos tiveram de ouvir
dos pais toda a ladainha sobre
o perigo que o namoro cedo
poderia provocar no seu futuro.
Sheila queria muito estudar.
Não gostava da vida do sítio,
queria conhecer omundo.
Marcos não. Ele também queria
estudar, mas estava decidido
a continuar no interior.
— E foi assim que o namoro
acabou. Ele até que insistiu,
eu chorava como uma louca,
mas tinha um medo danado
de ficar como minha mãe:
uma sitiante cheia de filhos.
Depois, já formados, chegarama
se ver, mas, para ela,
era impossível conciliar suas
novas vidas. Aquilo tudo tinha
acontecido há tanto tempo
que Sheila não viu motivos para
faltar no casamento do exnamoradinho.
Mas na cidade do interior
onde todos se conheciam, a
chegada dela para a festa causou
um certo furor. A família
do noivo ficou tensa. A dela a
aconselhou que faltasse à cerimônia.
O que Sheila não sabia
é queMarcos tinha demorado
anos para conseguir se relacionar
com outra moça. E aquela,
a noiva, era de fora, não sabia
de toda a história dos dois.
Sheila, porém, não deu ouvidos
a ninguém. Achava toda
a preocupação um exagero.
— Gente, somos adultos!
Tudo isso já passou! — dizia.
Mas, sem se dar conta, ao
longo do dia, Sheila bebeu
mais do que de costume. Trôpega
e eufórica, quando chegou
à igreja, mal conseguiu
respirar quando viu o noivo.
— Ele está lindo! — disse à
sua irmã.
Toda a paixão adolescente
voltou de uma só vez. A vontade
de Sheila era gritar para o
noivo desistir daquele casamento.
Dizer para ele que ela,
enfim, estava lá, que sim, o
amava loucamente.Que, todo
esse tempo, tinha só se enganado.
Que sua vida fora da sua cidade
natal era, de fato, um saco
— não era feliz, não tinha ninguém,
era solitária.
E, cheia da coragem que a
bebida dá, estava prestes a correr
para o altar quando começou
a tocar a marcha nupcial.
Sua autoconfiança foi parar no
pé. Sentada no fundo da igreja,
tinha uma visão privilegiada
da noiva parada na porta,
pronta para dar o passo mais
importante de sua vida. E a visão
da moça foi um choque.
— Ela é linda! — cochichou
no ouvido da irmã, desatando
a chorar sem parar.
A irmã precisou tirá-la da
igreja. Os soluços cortavam o
silêncio da cerimônia. De carro,
foram para uma cidade vizinha,
longe da festa. Dormiram
em um hotel e, no dia seguinte,
tudo o que Sheila queria
era voltar para casa e esquecer
que um dia tinha tido um
namoradinho no interior.
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