Foi uma sensação de missão
cumprida, de satisfação
por ter seguido uma intuição
meio incompreensível no começo,
dolorida até porque significava
ruptura, mas certeira.
Era uma pena aquela separação,
todos me diziam:
—Porque ele é tão bom e
vocês se dão tão bem!
Mas, agora, um ano depois,
não conseguia deixar de esconder
meu sorriso, minha felicidade.
Queria, sozinha que
estava, correr pela rua como
uma criança, ou comoalguém
que sabe que terminou bem
um ciclo, uma história, uma
parte da vida, e quer comemorar.
Simplesmente porque pode
seguir em frente sem ter que
olhar o que ficou para trás, sem
pendências a resolver, sem
rancores a cicatrizar.
Saí de lá já pensando em escrever
sobre essa sensação boa,
dividir essa satisfação com o
mundo, registrar para não esquecer.
É que, afinal, não é todo
dia que a gente recebe a notícia
de que o ex-marido está
namorando. E fica muito feliz.
“Meu Deus, que notícia
boa! Como é bom ver de novo
sua cara feliz”, digo, para mim
mesma, enquanto ele me dá alguns
detalhes do seu novo romance,
animado, meio sem
jeito, naquele tom de quem
confidencia algo muito importante,
que pode mexer com
a vida da gente.
— Eu já sabia — disparo,
porque quando ele conta que
está namorando já adivinho
com quem e até desconfio desde
quando. E ele me olha meio
incrédulo, é lógico.
— Como?
— É que era tão óbvio. Ela
gosta de você há tanto tempo,
estava tão na cara. Eu já havia
lhe dito isso.
Engraçado esta sensação.
Estou conseguindo contrariar
minhas amiga, que sempre diziam
que eu ir sentir ciúmes
quando meu ex começasse a
namorar. Eu sempre duvidei
disso, até porque a decisão sobre
a separação, para mim, foi
tomada com tanta lucidez e
certeza, que eu não via onde
caberia o ciúmes no final.
Uma das preocupações dele
era com a Bia, nossa filha de 9
anos. Como a pequena ia reagir?
Ia aceitar a namorada do
papai? Mas nem isso me preocupava.
É que, comela, eu já
vinha falando a respeito há um
tempo. Em casa, já tínhamos,
numa íntima conversa feminina
entremãe e filha, especulado
sobre o namoro do pai dela,
que a gente suspeitava estar rolando.
Também puxei o assunto
antes, para preparar o seu
espírito, ver sua reação para algo
que estava ali, maduro para
acontecer, e que era inevitával.
—Desencana, eu já falei
pra ela, e faz tempo. Você só está
me dizendo algo que nós já
sabíamos. Eu e você fizemos
tudo direitinho, fica tranquilo.
Ela vai achar natural.
Eu explico o que é fazer tudo
direitinho. Desde que decidimos
pela separação, começamos
a conversar comnossa
filha. E falamos muito. Explicamos
principalmente que o
romance, a paixão e a “vontade
de namorar” acabam, mas o
amor, não. E que a gente sempre
ia se gostar. Éramos como
irmãos, como amigos. Foi o
jeito simples de explicar para
uma criança o que significava
o fim do tesão.
Cheguei em casa e fui logo
contar a novidade para ela. E a
reação foi uma gargalhada.
— O importante é ele estar
feliz, né, mãe?
— É isso aí, Bia. E agora ele
está bem melhor, não é?
— É, eu também acho!
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