domingo, 10 de abril de 2011

28/03/2010 - Um amor técnico

— Não quero mais este relacionamento


técnico. Eu quero

um amor.

Foi assim que Juliana nos

surpreendeu. Ela, que sempre

foi a mais prática das minhas

amigas, finalmente se cansava

do sexo sem compromisso,

que em um certo dia descobriu

e começou a pregar que era a

salvação dasmulheres solitárias.

Antes, porém, Juliana não

acreditava que existisse o tal do

amor técnico.

— É assim: ele está tão acostumado

comigo e com o meu

corpo que me leva sempre ao

êxtase. Mas não tem emoção.

No final, cada um vira para o

seu lado e dorme — lhe contou

certa vez Alcione, uma colega

de trabalho.

— Não é possível, Alcione.

Nenhuma mulher chega ao

êxtase sem paixão! — Juliana

retrucou.

— Ah, chega sim. Eu chego

toda semana!

Juliana não acreditou. Na

época, porém, vivia um casamento

feliz de cinco anos. A

relação era estável e ela ainda

sentia a paixão e atração que a

fizeram querer casar. Mas o

que Juliana não sabia é que o

seu marido já estava em outra.

Quando se deu conta, seu relacionamento

já chegava ao fim.

Juliana quase morreu. Mas,

depois de enfrentar alguns

meses de “luto”, decidiu cair na

vida e experimentar a receita

de sua amiga Alcione.

— Reencontrei um antigo

amigo da faculdade. A gente se

dá superbem na cama —me

contou, entusiasmada. — Esó

agora eu entendi o que a Alcione

me dizia. É bem técnico.

Acho que aprendi a namorar

como homem, que não se envolve

e consegue resolver o seu

problema de desejo.

O prazer de Juliana tinha,

agora, dia e hora para acontecer:

duas vezes por semana

(terças e quintas), sempre após

o trabalho e na casa dele. Nunca

podia ser numa quarta-feira.

Era o dia da semana que seu

amigo jogava bola em uma

quadra. Aos sábados e domingos

eles também não se viam.

Ele sempre viajava.

Com ele, o ritual do sexo

também era metódico. As preliminares

eram praticamente

decoradas, nem a ordem delas

mudava. Umbanho tinha que

ser tomado nominuto antes e

também logo depois, sem

abraço ou beijo no final.

Juliana estranhou no começo,

chegou a desconfiar que

ele era casado, mas acabou se

convencendo que não. Era o

jeitão do rapaz. Sua empolgação,

porém, não passou do segundo

mês. Um dia descobriu

que estava triste demais. Satisfeita

no corpo, mas com o espírito

arrasado. Então, percebeu

que o sexo prático não era para

ela. Não podia continuar.

—Até conversamos na boa

sobre isso. E ele me prometeu

melhorar, fazer um um jantar

romântico no sábado, e até me

animei. Achei que ele sentisse

algo por mim e que queria que

eu me apaixonasse também.

Mas, sabe o que aconteceu

quando cheguei na casa dele?

A pia estava cheia de louça, ele

estava dormindo e não tinha

feito nem uma salada pra gente.

Abriu a porta depois que eu

quase estourei a campainha e

ainda ficou irritado quando eu

lhe perguntei do nosso jantar.

— Ah, não fiz. Mas vamos

pedir comida chinesa por telefone,

ok? Aliás, você gosta de

documentários? Porque meu

amigo me emprestou aquele

sobre o Pelé e eu estou louco

pra ver. E amanhã não vou poder,

porque tenho um almoço

na casa na minha mãe.

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