— Não quero mais este relacionamento
técnico. Eu quero
um amor.
Foi assim que Juliana nos
surpreendeu. Ela, que sempre
foi a mais prática das minhas
amigas, finalmente se cansava
do sexo sem compromisso,
que em um certo dia descobriu
e começou a pregar que era a
salvação dasmulheres solitárias.
Antes, porém, Juliana não
acreditava que existisse o tal do
amor técnico.
— É assim: ele está tão acostumado
comigo e com o meu
corpo que me leva sempre ao
êxtase. Mas não tem emoção.
No final, cada um vira para o
seu lado e dorme — lhe contou
certa vez Alcione, uma colega
de trabalho.
— Não é possível, Alcione.
Nenhuma mulher chega ao
êxtase sem paixão! — Juliana
retrucou.
— Ah, chega sim. Eu chego
toda semana!
Juliana não acreditou. Na
época, porém, vivia um casamento
feliz de cinco anos. A
relação era estável e ela ainda
sentia a paixão e atração que a
fizeram querer casar. Mas o
que Juliana não sabia é que o
seu marido já estava em outra.
Quando se deu conta, seu relacionamento
já chegava ao fim.
Juliana quase morreu. Mas,
depois de enfrentar alguns
meses de “luto”, decidiu cair na
vida e experimentar a receita
de sua amiga Alcione.
— Reencontrei um antigo
amigo da faculdade. A gente se
dá superbem na cama —me
contou, entusiasmada. — Esó
agora eu entendi o que a Alcione
me dizia. É bem técnico.
Acho que aprendi a namorar
como homem, que não se envolve
e consegue resolver o seu
problema de desejo.
O prazer de Juliana tinha,
agora, dia e hora para acontecer:
duas vezes por semana
(terças e quintas), sempre após
o trabalho e na casa dele. Nunca
podia ser numa quarta-feira.
Era o dia da semana que seu
amigo jogava bola em uma
quadra. Aos sábados e domingos
eles também não se viam.
Ele sempre viajava.
Com ele, o ritual do sexo
também era metódico. As preliminares
eram praticamente
decoradas, nem a ordem delas
mudava. Umbanho tinha que
ser tomado nominuto antes e
também logo depois, sem
abraço ou beijo no final.
Juliana estranhou no começo,
chegou a desconfiar que
ele era casado, mas acabou se
convencendo que não. Era o
jeitão do rapaz. Sua empolgação,
porém, não passou do segundo
mês. Um dia descobriu
que estava triste demais. Satisfeita
no corpo, mas com o espírito
arrasado. Então, percebeu
que o sexo prático não era para
ela. Não podia continuar.
—Até conversamos na boa
sobre isso. E ele me prometeu
melhorar, fazer um um jantar
romântico no sábado, e até me
animei. Achei que ele sentisse
algo por mim e que queria que
eu me apaixonasse também.
Mas, sabe o que aconteceu
quando cheguei na casa dele?
A pia estava cheia de louça, ele
estava dormindo e não tinha
feito nem uma salada pra gente.
Abriu a porta depois que eu
quase estourei a campainha e
ainda ficou irritado quando eu
lhe perguntei do nosso jantar.
— Ah, não fiz. Mas vamos
pedir comida chinesa por telefone,
ok? Aliás, você gosta de
documentários? Porque meu
amigo me emprestou aquele
sobre o Pelé e eu estou louco
pra ver. E amanhã não vou poder,
porque tenho um almoço
na casa na minha mãe.
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