domingo, 2 de janeiro de 2011

Gosto pela coisa

Publicado em 1 de junho de 2008

Meu amigo Roberto estava disposto a se casar com Bianca. Namoravam havia oito anos. Foi graças a ela que Roberto se separou da primeira mulher. Sueli descobriu que o marido vinha tendo um caso com a sua professora de inglês, moça que era uns dez anos mais nova que ele.

Bianca sempre teve atração por homens mais velhos e ele, dono de uma loja de ferramentas, apesar de casado, sempre se mostrou disponível. Depois da separação, o que era para ser só uma pulada de cerca virou um namoro sério.

A moça ocupava espaços, “esquecia” objetos seus na casa de Roberto, cuidava de abastecer a geladeira, planejava os fins de semana e, quando ele se deu conta, já falava em casamento. Ele não via forma de escapar. Apesar de, como de hábito, continuar mantendo amantes. Tinha, naquela época, duas.

 — Não sei ter uma mulher só! — ele me dizia.

 — Ora, então não se case com a Bianca. Pra que vai se comprometer tanto com a menina, que quer uma família, se não pode ficar sem as outras?

 — É que ela é uma garota legal, não quero decepcioná-la. E também preciso de uma família. Só que, sabe, ela não gosta muito da coisa... — explicou Roberto.

A coisa, na linguagem vulgar de Roberto, era o sexo. Neste dia, meu amigo foi tão honesto que cheguei a ficar assustada. Ele falava assim:

— Ela só quer transar uma vez por semana. E olha lá, hein? E é sistemática. Tudo tem que ser muito arrumadinho, muito certinho, muito papai-e-mamãe. E se a gente transa no sábado, posso esquecer o domingo. Eu preciso de mais, sabe?

É, eu sabia. E Roberto estava precisando ouvir poucas e boas. Não se dar bem na cama com a noiva perfeita não justificava o fato de ele manter outras amantes. Tentei fazê-lo mudar de idéia. Ver os defeitos dele na cama também. Perguntei se eles conversavam sobre o assunto. Se ele tentava estimulá-la. Se, por acaso, não era ele que ainda não havia encontrado a forma de fazer a noiva sentir prazer.

 — Não adianta! Ela é muito fria — definiu.

O casório se realizou um ano depois. Os dois já completaram três anos juntos. Outro dia reencontrei Roberto. O rapaz estava meio abatido.

— E como está o casamento? — perguntei.

— Ah, está bem. A Bianca já sabe das outras. E até que aceitou bem — ele respondeu.

 — Poxa, então o casamento sobreviveu?

— É, sobreviveu. Ela quis conhecer as outras, ficaram muito amigas... — revelou, tristonho.

— E... então?

— Agora só saem juntas. Até na cama uma delas ou, às vezes, as duas, têm sempre que estar conosco. Bianca diz que não imaginava que o sexo podia ser tão bom! Comigo apenas, nunca mais.

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