domingo, 2 de janeiro de 2011

08/02/2009 o nó e o brechó

08/02/2009 o nó e o brechó Foi com o coração na mão que Dinah entrou na sala de seu chefe naquele dia. Tinha certeza: seria demitida. E, de uma certa forma, se sentia aliviada. Desde que Rodrigo entrou na agência, a vida dela mudou, e para pior. Ele era inseguro e competitivo. — E ganhou o cargo porque era sobrinho de um dos sócios. Um escândalo, Vivi , um escândalo! — reclamava a minha amiga. Com Dinah, escalada para ser sua assistente, Rodrigo estabeleceu uma relação autoritária. Tirou dela tarefas com as quais já estava habituada e lhe deu outras, de menor responsabilidade. Pior: começou a assumir como se fossem dele ideias e rotinas que Dinah havia tido e criado. Rodrigo também afastou a assistente da relação direta com os clientes, o que para ela foi o mais frustrante. Publicitária recém-formada, Dinah havia entrado na agência como recepcionista no início da faculdade. Aos poucos, ganhou a confiança dos donos da empresa e, antes da chegada de Rodrigo, tinha assumido o contato com vários clientes importantes. Mas não foi o suficiente para ela ficar com a coordenação da equipe. Rodrigo, além do pistolão, era mais velho e tinha passado por outras agências. — Eu estou dando um passo para trás em termos profissionais, Vivi ! Vou procurar outro emprego — me contou. Então, o que menos Dinah queria, aconteceu: ela adoeceu. — Acordei com dores terríveis nas costas. Consegui marcar uma consulta para o mesmo dia, logo após o almoço. Então, avisei que ia me atrasar um pouco para ir ao médico. Mas, ainda de manhã, soube da inauguração do brechó de uma amiga, na mesma tarde. Ah, não tive dúvidas. Resolvi dar um nó no trabalho. — Olha, Rodrigo, tenho uns assuntos pessoais para resolver. Então, depois do médico, vou fazer essas coisas. Não volto após o almoço, ok? Surpreendido com o jeito direto da assistente, Rodrigo respondeu “ok” meio a contragosto. Nem meia hora depois, porém, em tom formal, ele a chamou na sua sala. “Agora é a demissão”, Dinah pensou. Mas, ao entrar na sala, a cara do chefe expressava só insegurança. — Dinah, me diga, você está indo acertar um outro emprego hoje? Porque você não pode fazer isso. Eu preciso muito de você aqui. Por favor, não saia da agência — disse, em tom de súplica. Perplexa, minha amiga não abriu o jogo com o chefe, mas jurou que nunca havia pensado em largar aquele emprego. E, no fundo, se sentiu vitoriosa: “Enquanto ele sofre pensando que estou atrás de outro emprego, eu vou é curtir num brechó”.

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