domingo, 25 de julho de 2010

25 /01/2009 um vício de mulher

 Ylana não era mais uma mocinha quando conheceu Vlad. Ela fazia parte de um grupo evangélico que pregava de casa em casa, quase sempre aos domingos de manhã. Mulher feita, madura e firme, ela tinha uma beleza incomum quase profana, que preferia reprimir com orações. Já Vlad fazia parte de um outro tipo de grupo: o do boteco da esquina, da turma que bebia de manhã até cair na madrugada. Vlad amanhecia quase todo dia no banco da praça, ou onde quer que a loucura da noite o levasse. Para os amigos, era um deus. Para os de casa, o incorrigível, o imprestável. Ele mesmo não ligava para o que diziam. Só queria saber de diversão, e de morrer com um copo na mão. — Assim o conheci. Numa manhã de domingo, ele na mesa do bar, cercado de homens, copos e garrafas. Seu olhar me atravessou — relembra Ylana. A cena era inusitada. Enquanto o pastor, cercado de crentes e com a bíblia na mão, tentava fazer um sermão, a turma do funil vaiava e gritava, mandando o grupo evangélico ir embora. Eles gritavam que não queriam perdão, nem redenção. Diziam ser felizes ali. Mas o pastor não se importava e levantava a voz, tentando de todas as formas converter alguma alma, para ele, perdida. Foi no meio daquela balbúrdia que Ylana e Vlad se viram pela primeira vez. E, por longos segundos, não pareciam pertencer àquele lugar — estavam hipnotizados um pelo outro. Ele, pela beleza dela. Ela, pelo carisma dele. Quando se deu conta do que acontecia, Ylana tentou disfarçar. Respirou fundo e entregou a Vlad uma revista e um panfleto com uma oração. Ele reagiu segurando forte o pulso da moça, que se esquivou e saiu do bar. Vlad se levantou no meio da confusão de vozes e protestos dos amigos e saiu também, a segui-la, trôpego. No meio da praça, percebendo que ele estava atrás dela, Ylana se virou: — Para de me seguir. Eu sei o que você quer e também quero. Mas você também quer a morte de tanto beber e eu não pretendo ver isso acontecer. Então, se a gente vai continuar daqui, você vai ter que se converter, se regenerar. E Vlad fez o que parecia ser improvável: parou de vez de beber. — Mas ele não deixou de ter um vício. Ou melhor, nós dois ficamos viciados um no outro — conta Ylana. Se Vlad deixou de ir ao botequim, Ylana também largou as orações. Para ela, Vlad era um desafio diário, um homem que a ensinava a ser a mulher que nunca tinha sido. Para ele, Ylana era um deleite que dispensava o acompanhamento da cachaça. Os dois se descobriam a cada instante e se bastavam. E, quando passava pelo bar e os velhos amigos perguntavam se tinha virado crente, ele respondia: — Deus me deu uma dádiva, mas a minha crença é só essa mulher chamada Ylana.

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